Como tudo começou?

Enquanto revia vídeos e fotografias do meu pequeno de 4 anos (hoje com 7), que teima em crescer mais rápido do que eu consigo acompanhar, aproveitei para reler os diários que fiz desde a gravidez aos dias de hoje sobre cada momento (que julguei importante, essa ideia eu tive com a minha sogra que até hoje guarda escritos sobre fofurices do meu marido quando criança) registrado para que as trapaças da memória não as apagassem.


Foi neste caminho de reviver o passado que me descobri saudosa e percebi que precisava compartilhar as lembranças antes que esmaecessem sob a luz do dia a dia. Então, resolvi que postaria para amigos, familiares e outros curiosos do mundo pedaços desta minha vida, e ainda de lambuja deixar para o meu pimpolho histórias sobre ele mesmo para que um dia leia e sinta como foi esta jornada de chegar ao mundo e traçar seus próprios caminhos.


Espero que gostem e se emocionem um pouco, assim como eu ao revisitar minha história, e se entusiasmem para fazer uma visita à história de vocês.
Sejam bem vindos às "histórias sobre meu filho".

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Em primeiro lugar

Sei que escrevi há pouco sobre como me sentia em segundo lugar quando cedia a vez ao meu filho. Mas na verdade foi uma mágoa que todos sentimos quando abrimos mão de algo que muito desejamos por outra coisa, ou alguém, que também queremos (se fosse por algo que não déssemos valor, não faríamos, com certeza). 

Enfim, meu período de mágoa me serviu para ver e ouvir meu filho mais de perto, para trocar ideia com amigos queridos que enfrentam semelhante angustias todos os dias, para subir na cadeira e ver sobre outro prisma todo este cenário

E durante esta reflexão, percebi que estava colocando uma outra parte de mim em primeiro lugar, aquela parte que há anos atrás resolveu enfrentar seus monstros e assumir este papel que a maternidade traz. 

Como poderia estar em segundo lugar se o primeiro lugar era meu mesmo? Um outro eu, entregue à maturidade e generosidade. Eu passei o final de semana brigando com as duas faces de mim mesma, meu lado adulto e responsável contra meu lado jovem e despreocupado. E no meio desta contenda interna, meu filho sofrendo as barbáries que uma mente insana poderia cometer. 

Obviamente que há uma diferença na forma de criar filhos de ontem e hoje: ontem quando a vontade dos pais prevalecia sobre a dos filhos e estes eram OBRIGADOS a seguir seus pais para todos os cantos, e hoje somos nós pais a seguir as necessidades dos nossos filhos nos OBRIGANDO a inverter papéis de modo a garantir a felicidades deles em primeiro lugar (pelo menos faço parte deste grupo,e não de um outro que larga as crianças para "curtir"). 

Foi quando parei para ouvi-lo e descobrir o que podemos compartilhar juntos.  Ele tem tanta coisa dentro dele que ainda não sabe como expressar e não sabe como colocar de forma eloquente que se atropela e nos leva junto num turbilhão de emoções extenuantes. É preciso dar este passo atrás e olhar de fora para sentir e se restabelecer. 

Conversamos tanto ontem sobre como ele gostaria de criar um robô que pudesse fazer várias coisas para ele (pegar suco, fazer biscoito, ligar a TV, carregar no colo, etc.) para que eu e o pai pudéssemos descansar. Mas o robô também teria armas para defende-lo dos  ladrões. Depois ele fez um retrato meu. Fizemos desenhos e lemos histórias, e adormecemos nos braços um do outros, em harmonia, amor e confiança.

Sim, acordei me sentindo em primeiro lugar.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Em segundo lugar

Eu nunca vou entender esses sentimentos antagônicos que você me faz sentir, meu filho. Quanto amor e frustração, emoções que caminham juntas nesta experiência chamada maternidade. Enquanto escrevo meus olhos lacrimejantes e garganta cerrada  me impulsionam na escolha das palavras certas.

Eu mudei minha vida por você, e me transformei para que você pudesse ter um lugar neste mundo e fosse bem recebido, me choquei quando você saiu de mim e ao berros me mostrou que a partir daquele momento eu estaria sempre em segundo lugar (para mim mesma). E contra este segundo lugar eu luto bravamente todos os dias.

Por que eu não posso dormir um pouco mais nos finais de semana, ou ver um filme na TV quando tenho vontade? Abri mão do meu corpo por 9 meses para te dar vida, e da minha vida toda para cuidar de você e te ver crescer. Abro mão inclusive do tempo que poderíamos ter juntos para trabalhar mais e te prover de luxos que eu não tive. 

Por que você não pode me conceder o direito, o desejo de festejarmos juntos? Por que tem que ser sempre do seu jeito?

Filhos são egoístas até que se tornam pais.

E mesmo que cada uma destas coisas sejam feitas com imenso amor, tem dias, como hoje, quando a reciprocidade ainda não estabeleceu entre nós, que dói muito. E este amor dá lugar a uma frustração, uma decepção, e repenso minhas escolhas. E choro porque lembro de, no lugar de filha, ter agido de forma semelhante com minha mãe, e penso na dor que infligi a ela e que nunca soube.

Hoje estou muito triste, porque amo meu filho e escolheria ele para sempre, mas  queria estar em outra lugar. Estou me sentindo um animal enjaulado, acostumado a seu cativeiro, despossuído de direitos, sem ter aonde ir.

Quando poderei deixar de estar em segundo lugar sem que isso o prejudique ou a mim? Deveríamos estar vivendo em uníssono mas estamos em times diferentes. Não posso dar aquilo que não tenho. 

Quero retomar o meu primeiro lugar, sem deixar de doar e amar, Como conciliar estes sentimentos? Você tem a resposta, meu filho? Quem sabe um dia. Por hoje, deixo a dor inundar meu corpo e escorrer por meus olhos até que possamos estar juntos novamente em alegria.