Como tudo começou?

Enquanto revia vídeos e fotografias do meu pequeno de 4 anos (hoje com 7), que teima em crescer mais rápido do que eu consigo acompanhar, aproveitei para reler os diários que fiz desde a gravidez aos dias de hoje sobre cada momento (que julguei importante, essa ideia eu tive com a minha sogra que até hoje guarda escritos sobre fofurices do meu marido quando criança) registrado para que as trapaças da memória não as apagassem.


Foi neste caminho de reviver o passado que me descobri saudosa e percebi que precisava compartilhar as lembranças antes que esmaecessem sob a luz do dia a dia. Então, resolvi que postaria para amigos, familiares e outros curiosos do mundo pedaços desta minha vida, e ainda de lambuja deixar para o meu pimpolho histórias sobre ele mesmo para que um dia leia e sinta como foi esta jornada de chegar ao mundo e traçar seus próprios caminhos.


Espero que gostem e se emocionem um pouco, assim como eu ao revisitar minha história, e se entusiasmem para fazer uma visita à história de vocês.
Sejam bem vindos às "histórias sobre meu filho".

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Sobre macacos e pássaros


Hoje, pela manhã, eu e meu filho de cinco anos assistíamos ao noticiário na televisão. Na tela, aparece uma imagem em câmera lenta, permitindo aos espectadores decifrar o que uma torcedora da equipe Grêmio gritava em direção a um jogador da equipe do Santos. Meu filho perguntou o porquê da torcedora estar falando “devagar”, do que se tratava aquilo.

Por volta dos 43 minutos do segundo tempo, o jogo havia sido paralisado quando jogadores do Santos avisaram ao árbitro da partida, disputada em Porto Alegre, que o goleiro da equipe estava sendo vítima de racismo. Imagens da televisão flagraram uma torcedora (?) gritando a palavra “macaco”. Entrevistado, o goleiro Aranha afirmou que ouviu gritos de “negro fedido”, “seu preto” e “cambada de preto” e, após, um grupo de torcedores gremistas começou “a fazer barulho de macaco”. Inacreditavelmente, o juiz da partida mandou o jogo seguir.

Achei importante desenvolver o tema com meu filho. Expliquei que a torcedora (?) estava chamando um jogador adversário de “macaco” porque este jogador adversário tinha a pele escura, como os macacos, e que a intenção da torcedora (?) era dizer que o goleiro não era humano, e sim animal. E ser animal, neste caso, era pior do que ser humano. Disse a ele que isso é uma bobagem, que o jogador de pele escura não era pior do que ser humano coisíssima nenhuma, que a diferença na cor da pele não diz nada sobre a pessoa, se é legal ou chata (claro, tive que usar uma linguagem apropriada para uma criança de cinco anos).

Meu filho arremata meu argumento com o seguinte raciocínio: “ah, é que nem a gente que tem pele branca, que não é igual a um pássaro branquinho, não é?”. Vejam que a distinção que ele fez foi entre duas espécies da mesma cor, e não espécies de cor diferente. Ou seja, ele não diferenciou brancos e negros, e sim brancos humanos e brancos não humanos. Para ele, brancos e negros são gente, pássaros e macacos são animais.

O pequeno diálogo é a prova de que o racismo é aprendido, que o ódio não corre pelas veias, mas transmitido através da (des)educação, da desinformação e da desonestidade intelectual. Afinal, estudos recentes já demonstraram que, biologicamente, indivíduos com tons de pele muito distintas podem compartilhar mais de seu código genético do que indivíduos com tons de pele semelhantes ou “iguais” (como medir, não é mesmo?).  

Meu filho tem consciência da diferença da cor da pele que existe entre ele e seus colegas. Ele diz que a dele é “branca”, e a de um colega é “marrom”. Até aí, nada de mais, é apenas uma diferença que ele percebe objetivamente. A questão surge quando esta diferença objetiva adquire um significado, passa a representar algo que vai além da simples pigmentação; passa a simbolizar, por exemplo, de um lado, maior capacidade intelectual e, do outro, a estupidez próxima ao animalesco.


O mesmo acontece com os “olhos diferentes” que ele identifica nos imigrantes e descendentes de asiáticos (outra categoria construída que não dá conta das distinções entre povos e culturas daquele continente), apenas para chamar a minha atenção de uma conversa que ele teve no parquinho perto de casa, quando se aproximou dele e de um amigo um adulto de “olhos diferentes” e seu filho. São diferentes, não inferiores. Quem sabe compartilham gostos em comum? Ele vai descobrir aos poucos.

Meu filho provou como a educação, desde cedo, é importante para a construção de um mundo melhor, onde o respeito à diferença é um valor absoluto e a convivência é estimulada.

Ganhei meu dia. 

Comentário: Esse texto foi escrito pelo papai. Adoro ver o Miguel pelos olhos do pai, então compartilho com vocês. Também pode ser visto em : http://espacoacademico.wordpress.com/2014/08/30/sobre-macacos-e-passaros/

sábado, 23 de agosto de 2014

Ninguém cala esse nosso amor



Miguel foi hoje pela primeira vez ao Maracanã, ver seu time de coração. 
 
O jogo não era lá grandes coisas: Botafogo X Chapecoense, e o alvinegro precisava ganhar para sair da zona de rebaixamento, algo recorrente entre times grandes da primeira divisão. Mas por ser um jogo assim seria uma ótima oportunidade para levá-lo sem estresse de confusão. Conseguimos emprestadas as cadeiras cativas de um amigo de um amigo. O que era uma garantia a mais de conforto e tranqüilidade.

E lá fomos, eu e Miguel, de metrô rumo à estação Maracanã. Quando embarcamos no Largo do Machado, ele logo se entusiasmou ao ver outras pessoas trajadas com a camisa do mesmo time, e percebeu aquela troca de olhares de cumplicidade de quem compartilha um segredo comum, a paixão pelo Botafogo.

Mas foi na estação Estácio que a “ficha caiu”, ficou enlouquecido com a quantidade de pessoas, de todas as idades (inclusive bebê de colo) com diversos modelos diferentes de "estrela solitária" estampadas em suas blusas, e com a cantoria em uníssono do hino do Glorioso.

Ele virou para mim, ainda na estação, e disse que estava emocionado e que queria chorar. E me abraçou. Meus olhos encheram-se de lágrimas, eu quis chorar também.

Quando desembarcamos no Maracanã e ele viu aquela monstruosidade crescendo em nossa direção, não parava de pular e queria correr para chegar logo. Realmente ver o estádio todo iluminado para um jogo é incrível, especialmente quando você tem um pouco mais de 1 metro de altura e 5 anos de idade.

Gritou quando fizemos gol, fez “uruca” contra os “verdinhos”do Chapecoense e falou alguns palavrões (que são permitidos somente em estádios de futebol) em jogadas tensas, enfim, torceu. Fez uma única reivindicação, queria sentar com a torcida, eu entendo, eu também gosta de sentar com a “muvuca’, respondi que na próxima iríamos.


E quando o jogo acabou, na hora de ir embora, me agradeceu e disse que nem estava cansado (e eu até achei que ele ia pedir para sai no intervalo).

Eu nem podia imaginar que este passeio teria toda esta emoção, achei que ele iria curtir o estádio, sei lá, mas não a emoção que ele me revelou. 

Lembrei de um jogo que assisti com meus pais (talvez tenha sido minha primeira vez), um Botafogo X Flamengo, e de ser engolida por uma multidão de flâmulas de ambos os lados de um estádio lotado, diferente de ontem. Acho que naquele perdemos, eu não sei, mas não importou para mim. Era o sentimento de pertencer a algo maior, de estar conectada a minha família que, à exceção da minha mãe que na época era rubro negra, torcia pelo Fogão.

Torcer para o Botafogo nunca teve a ver com vitória, mas com este sentimento de pertencimento, mas sim com a memória de um time que nunca vi jogar com  Heleno e Garrincha, de relatos de minha avó, e pela conexão que ele sempre me fez ter com a história da minha família, com uma volta ao passado.

Eu não me importo se ele crescer e quiser mudar de time, esta é uma escolha dele, mas esta primeira vez vai ficar pra nós dois pra sempre.

sábado, 16 de agosto de 2014

Miguel Ninja



Hoje foi um desses “mamãe e Miguel Day of fun”!

Tenho que confessar que quando planejo um desses dia eu fico meio temerosa porque nunca sei como as coisas vão terminar, mas o dia de hoje foi espetacular!

Papai tinha um compromisso de voltar a jogar bola e reconquistar um tempo seu, e eu convidei Miguel para ir ao cinema ver uma refilmagem das Tartarugas Ninja. Estava um pouco preocupada porque o trailer do filme não foi lá muito inspirador, umas tartarugas de 1, 80 m e saradas, num filme escuro estilo Batman, sessão 12 anos, mas arrisquei assim mesmo.

Fomos comprar os ingressos por volta de maio dia e depois almoçar na Galeria São Luiz. Miguel escolheu um bistrôzinho novo, e pediu quiche de alho poro com suco de morango ao leite. Indicou a mesa em que queria se sentar, uma mais no canto com dois lugares, porque nós éramos dois. E todo meninão, comeu sozinho, e puxou conversa comigo durante o almoço perguntando se o filme seria legal e se eu tinha ficado do trailer que tínhamos visto no corredor da Galeria (do filme Hércules), que ele tinha achado muito violento, e ainda fazendo referências sobre acontecimentos da semana em sua escola.

Ao terminarmos, ele me cobrou por não ter comido tudo que estava no prato e eu disse que estava com a barriga cheia, como ele quando não quer comer tudo. E ele disse que queria pagar a conta. Dei o meu cartão para que ele pudesse entregar à garçonete, mas acabou que eu mesma digitei a senha para evitar erros e bloquear o meu único cartão.

Então seguimos para o banheiro para lavar as mãos, onde ele morreu de rir ao secar naquelas máquinas de ar, que por sinal estava muito forte, e fazia com que seu cabelo voasse para trás.

Esperamos mais um pouco e entramos no cinema. Todos curtiram sua roupa de Tartaruga Ninja, ele estava com o casaco e camiseta que havíamos comprado em L.A. no ano passado, e quando vestia o capuz do casaco, surgia uma máscara igual a das personagens sobre seus olhos.

Entramos e nos sentamos. Como previ, o filme foi meio sombrio, mas havia algumas piadas que Miguel entendeu e riu. Não foi violento, embora muita ação. Ah, e tinha a Megan Fox! Essa, ele adorou!

Terminado, ele ainda me esperou calmamente na saída para irmos de mãos dadas pela rua, debatendo quais foram as melhores cenas.

Incrível! Nossa relação está amadurecendo, sei que não será assim todos os dias, mas quando nós dois estamos dispostos a nos entregar e fazer do dia, um dia legal, de fato teremos um dia maravilhoso.