Como tudo começou?

Enquanto revia vídeos e fotografias do meu pequeno de 4 anos (hoje com 7), que teima em crescer mais rápido do que eu consigo acompanhar, aproveitei para reler os diários que fiz desde a gravidez aos dias de hoje sobre cada momento (que julguei importante, essa ideia eu tive com a minha sogra que até hoje guarda escritos sobre fofurices do meu marido quando criança) registrado para que as trapaças da memória não as apagassem.


Foi neste caminho de reviver o passado que me descobri saudosa e percebi que precisava compartilhar as lembranças antes que esmaecessem sob a luz do dia a dia. Então, resolvi que postaria para amigos, familiares e outros curiosos do mundo pedaços desta minha vida, e ainda de lambuja deixar para o meu pimpolho histórias sobre ele mesmo para que um dia leia e sinta como foi esta jornada de chegar ao mundo e traçar seus próprios caminhos.


Espero que gostem e se emocionem um pouco, assim como eu ao revisitar minha história, e se entusiasmem para fazer uma visita à história de vocês.
Sejam bem vindos às "histórias sobre meu filho".

domingo, 14 de dezembro de 2014

O Quebra-Nozes

Somente uma avó para levar o netucho ao Teatro Municipal para assistir ao Quebra-Nozes.

Ainda me lembro de minha 1a. vez para ver a Cia de Balet Momix em Romeu e Julieta. Eu tinha 13 ou 14 anos, fui com um grupo da escola e fiquei encantada com a arquitetura, com a música, com a dança, com a história. Naquela época não se via metade da beleza do teatro que ainda não havia passado pela restauração.

Que sorte que meu filho tem de poder usufruir deste encanto...

Na véspera do passeio sentamos no computador para conhecer um pouco da história do balet e do teatro, eis que aparece no youtube diversos vídeos e Miguel vira para mim e diz que já conhece o Quebra-Nozes porque viu no desenho da Barbie. 

Este mundo moderno permite acesso a tudo, e se não fosse a avó talvez meu filho jamais conhecesse a verdadeira história e conhecesse apenas este desenho computadorizado e não beleza e encanto da arte in natura, ao vivo e ter a emoção de sentar num teatro de verdade e ouvir uma orquestra. 

sábado, 13 de dezembro de 2014

Compartilhando a vida

Miguel sabe de cada ponto de estresse e pressão que vivo, nomes de pessoas "chatas" com quem convivo, porque saio cedo e chego tarde, eu choro na sua frente, peço cafuné como ele pede para mim, às vezes ele me liga durante o dia para me contar o que está fazendo, e à noite compartilhamos o que fizemos no dia. Isso tudo para diminuir esta distância afetiva. 

Minha mãe sempre esteve fora, trabalhando e estudando, e não tenho registro de sua ausência porque o nosso tempo juntas era um tempo de qualidade. Também não acho que seja solução mães donas de casa o tempo inteiro "em cima". 

Há que se buscar equilíbrio, há que se aceitar que os filhos não são nossos, mas parte da gente.

Às vezes fico tão triste de passar o tempo todo fora, de uma hora para outra ele vai crescer e vai deixar de ser o meu pequeno, ele já nasceu independente, se eu não estabelecer um elo de confiança e compartilhamento, vou perde-lo para a vida mais cedo que minha expectativa original. Penso que com 7 anos ele não vai querer meu colo ou meu carinho, então procuro o dele, não só como filho, mas como companheiro. 

Sobre o tema: http://www.brasilpost.com.br/traci-bild/o-lado-da-maternidade-que_b_6277566.html

domingo, 7 de dezembro de 2014

Galo ou Galinha

Para encerramento do ano letivo e projeto acadêmico deste ano, a nova escola do Miguel sugeriu que as crianças interpretassem a peça Os Saltimbancos (já que o projeto do semestre foi O Teatro).

Todos achamos o máximo eles reviverem as músicas de Chico Buarque, que representam tão bem a peça. E de nossa parte também iríamos reviver nossa infâncias através de nossos filhos.

A professora deixou que cada um escolhesse qual animal da peça seria, tomando o cuidado para que não ficasse nenhum bicho sem representante. Fiquei surpresa quando Miguel me disse que seria uma galinha. Na minha opinião sempre foi o bicho menos interessante da histórias, mas OK. Pergunta daqui, puxa dali, entendemos o interesse dele na penada,  A. também seria uma galinha. Ahhhhhh.

Corri para preparar uma fantasia bacana, com penas mesmo, e nada muito sintético. falei para ele que faríamos então uma fantasia de galo e corri para o abraço. Todos os dias era uma cantoria sem fim no chuveiro, quando na era a musica da galinha, era uma outra qualquer do repertório Saltimbanco.

Às vésperas da apresentação, na semana mesmo, ouvi Miguel dizendo que não queria na apresentação porque estaria cansado. Como poderia antever seu cansaço em dia e hora específico? Não dei importância na hora, achando que se tratava de algum programa na TV que ele quisesses assistir na mesma hora. 

Mas no dia da apresentação ele me contou que não queria mais ser galinha, mas jumento ou cachorro, não me lembro direito. Me espantei. O que houve? O que aconteceu? A resposta era simples, ele queria mudar e não dava mais tempo. Os colegas disseram que não havia galo na história, somente galinha e que isso era coisa de menina. Ui!

Depois de alguns minutos de conversa, consegui convence-lo a ir, a participar, afinal eu mesma já havia sido um Apolo numa peça de teatro quando criança. Falei que os atores não têm sexo, são personagens e que quando estão no palco são outras pessoas diferentes deles na vida real. Ele topou se vestiu e foi. Alegre e entusiasmado. Porem, assim que tirou o roupão (ah, sim, ele insistiu em ir de roupão e fazer uma entrada triunfal) uma amigo disse que ele parecia uma menina. O tempo  fechou, ele cantou, mas todo apagadinho, sem um sorriso nos lábios.

Filmei e fotografei, ele estava lindo, foi super emocionante e incrível. Mas que diabos estas crianças tem na cabeça, galinha é galinha. Tinha menina de cachorro e menino de gato e ninguém falou nada. É teatro!  É sonho! É criatividade!

É assim que começa o preconceito, e que a inocência dá lugar à ignorância.

Ainda teve quem dissesse que ele teria que aprender a lidar com este tipo de situação e que eu estava dando muita importância. Será exagero meu reagir ao ver meu filho triste, por ele perder o entusiasmo por algo por conta do preconceito de outra pessoa?

Desejo que o coração do meu filho permaneça puro e inocente por muito tempo mais, antes que seja maculado pelo medo, pela amargura da vergonha, pela intolerância. Que ele sempre veja o mundo sob uma perspectiva criativa, e idílica.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Profissão estresse - mãe

Fui ao médico porque descobri um caroço no antebraço. Logo no início da minha consulta meu médico me tranquilizou dizendo que não era nada, apenas um quisto sebáceo, um acúmulo de gordura, provavelmente causado por estresse e começou a me fazer uma série de perguntas sobre a minha vida.

Desatei a falar sobre os acontecimentos do meu ano de 2014 que foram bem pesados, conflitos familiares, desentendimentos, o peso que sinto com a responsabilidade de manter uma casa, o trabalho desgastante que me toma todo o tempo, os cuidados com o filho pequeno nos dias de hoje que requer toda a minha atenção 24x7.

Ganhei uma licença medica de 5 dias para tentar diminuir o ritmo e encontrar um ponto de equilíbrio.

Depois de dois dias em casa percebi que um dos maiores pontos de estresse na vida atual é o meu filho. meu filho que amo mais que tudo no mundo, que escolhi ter, que desejei que tivesse exatamente estas características que apresenta, o meu Miguel é um ponto de estresse na minha vida. 

E por que? Porque ele é muito parecido comigo, às vezes parece que estou duelando comigo mesma, uma briga entre um eu de 37 anos, adulto, racional e equilibrado, com meu eu de 5 anos, infantil, egoísta, birrento.

O dia a dia com meu filho traz à tona o meu pior lado, tenho que gerenciar tudo que tinha em mim e que deixei para trás ao longo dos anos, no meu processo de crescimento pessoal. Somado das exigências e expectativas da minha família e a do meu marido, que na maioria das vezes são completamente diferentes, e ainda fazer com que isso não interfira na minha vida a dois.

Minha pergunta é, todas as mães passam por isso ou é exclusividade minha? Não me entendam mal, amo meu filho, mas desde sua chegada o nível de estresse, de exigência e responsabilidade só aumentou.  Não existe "teste drive" para ser mãe, ou você cai dentro ou fica postergando até o dia em que não dá mais. 

Eu caí dentro, mas é pesado às vezes, mesmo com todo o amor, como todo o apoio que tenho do meu marido, com toda a espiritualidade, tem dias que quero sair correndo e gritar, gritar muito... 

Miguel, eu te amo mais que o céu e a terra, você tem os olhos e nariz que desejei, o cabelo que escolhi, o sorriso que sonhei. Nos escolhemos há muitas eras atrás e continuaremos a nos escolher por muitas ciclos. Você traz à tona a minha luz e as minhas trevas, me equilibra. Você é o meu sonho realizado, minha ilusão e minha realidade. Eu te desejei. Eu te quis e te quero. Nada muda entre nós, mesmo quando somos maus um com outro, nosso amor persiste. Mas vou te contar uma coisa, cara, ser mãe estressa. Às vezes só quero ficar com você no meu colo te amando em silêncio.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

A sinceridade nas palavras de uma criança

A sinceridade das crianças às vezes dói nos ouvidos e no coração quando se escuta. 

Passando por problemas pessoais, resolvi conversar com o Miguel para que ele saiba que a minha cara de tristeza não tem a ver com ele, que o amo muito e que quero que ele seja feliz (blá, blá, blá...).

Perguntei a ele se o que ele precisava  de mim para ser feliz, eis que ele me responde, um boneco. Mas que boneco? Um boneco para ele dormir abraçado à noite. Mas ele nem dorme abraçado a nada, é do tipo bicho solto! Será que ele entende a pergunta? 

Continuei...

Perguntei se ele para ele ser feliz eu tinha que ser feliz também, ou tudo bem eu ficar riste. E na lata: tudo bem ele ficar feliz e eu triste, mas ele tinha que estar feliz. Ai!!!!!  Minha sobrancelha arqueou, meu nariz enrugou e na mesma hora ele mudou de opinião.  Que nós dois tínhamos que ser felizes...

Acho que quando somos crianças é isso mesmo, não pensamos muito em nossos pais ou na felicidade imediata deles, e sim no nosso bem estar, mesmo que bem estar seja uma bala juquinha. Ele não falou nada errado, não quer "me ver pelas costas", ele foi criança, foi sincero, falou o que qualquer um dia nós teria dito aos 5 anos de idade.

E a minha ficha caiu. Pare de se lamentar! É para e por ele que faço a maior parte das coisas, então vamos embora, siga em frente, se tiver que engolir sapo, que pelo menos não seja perereca. No final das contas, a minha felicidade é a dele, aquilo que poderemos compartilhar juntos, e com sinceridade.


terça-feira, 11 de novembro de 2014

Ler é como lamber as palavras

"Ler é como lamber as palavras"... li isso no Museu de Artes do Rio (MAR) ou mais ou menos isso. E é assim que o Miguel está se sentindo em seus primeiros dias de leitor.

Dia 10/11 foi a primeira vez em que leu um livro inteiro sozinho, sem ajuda. "Se eu fosse uma árvore", ok, não era nenhum tratado de filosofia, mas muita poesia e ora escrito na horizontal, ora na vertical, trazia as palavras enroscadas no desenho, fazendo da leitura um ato de amor.

Seu orgulho por ter alcançado mais esta conquista estava visível no brilho dos seus olhos e no toque firma de suas mãos ao virar com gentileza as páginas do livro.

Pedi que repetisse uma vez para que eu pudesse filmar e guardar esta memória, o que ele já fez um pouco ensacalhado, pela hora da noite e pelo fato de estar vendo desenho na TV (competição desleal), mas foi lá e leu algumas linhas para registro histórico. 


O pequeno vídeo postei no facebook e encaminhei para a família. Reproduzo abaixo os comentários relevantes:

"Muito legal !! Meus parabéns
Pra vcs !!! Bjs..."(tio J.)

"Que legal!! Mais um futuro come traça na família!! Bem-vindo a maravilha das artes escritas. Lindo!!!"(tia F.)

"Aê, Miguel! Esse meu sobrinho vai longe! Parabéns!!!!"(tia S.)

"Parabéns, lindão gostosão!"(vó S.)

"Muito legal, Renata. Esse é para guardar e mostrar para ele daqui a uns dez anos."(vô J.)

"Que alegria ver o Miguel lendo! É mágico!"(vó Scha.)

"Que lindo rapazinho! Parabéns pra ele!"(tiadinda A.)

"Que beleza, que emoção, aprender a ler as palavras! Eu ainda me lembro de quando aprendi as minhas primeiras! Estou muito orgulhosa do meu afilhadinho.(dinda M.)

sábado, 25 de outubro de 2014

Com quem será?


Nunca imaginei que uma simples festa de aniversário, à hora do parabéns, pudesse simbolizar tantas coisa para uma criança de 5 anos.



Já contei que Miguel está apaixonado e recentemente declarou seu amor a sua nova musa. O que não tinha dito ainda é que a nova dona de seus pensamentos é a mesma menina que um de seus amigos também almeja conquistar.



Dias após ele ter entregado aquela florzinha do nosso jardim, uma amigo da sala, levou para ela uma plantinha que ele mesmo havia plantado. Disputa no ar... enfim, não me atrevo a perguntar, este é um assunto proibido para mim por ele.



Mas chegou um convite para o aniversário de A. E imediatamente começou a aflição do presente que iríamos comprar, porque a Miguel me passou uma listas dos interesses dela e tive que ser criativa para conseguir algo dentro deste escopo, da roupa que ele iria vestir, da hora da festa, etc.



Chegado o tão esperado dia, o menino acordou perguntando a hora da festa. Imediatamente, o pai e eu inventamos uma série de atividades para deixá-lo fora de casa até a hora animada, para não enlouquecermos de responder a mesma pergunta.   

Na hora em que chegamos, a vergonha o tomou pelos braços, e ele quase não quis entrar no elevador, tive que estar a seu lado para entregar a A. o presente e ainda pedir que o abrisse.  Primeira fase vencida, ela amou o presente (um livro da serie de desenho Ever After High), fase dois o posta em ação, para que seria cantada a música do parabéns “Com quem será?”.



Lembram daquele amigo dele que também é apaixonada por A.?  pois bem, ele também pediu para que ela abrisse logo o presente que ele havia trazido, para que pudesse apreciar sua expressão, e na hora do bolo, se posicionou ao lado dela na mesa, enquanto Miguel estava a sua frente, do outro lado da mesa.



Na hora do “Com quem será?” eu, mãe, estava angustiada. E se a musica fosse para o amigo? Miguel ficaria arrasado? E se fosse para ele, qual seria sua ração? Fechei os olhos e esperei o que parecia ser uma eternidade. 


E em uníssono cantaram:

- Vai depender, se eu Miguel vai querer...



Eu sinto pela ração do amigo, que eu nem sei qual foi, mas senti um grande alivio pelo meu filho, porque a frustração do coração partido é a que não tenho como protege-lo e ensina-lo, ele vai ter que enfrentar sozinho muitas e muitas vezes, mas não precisava começar agora .

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Pimentão, arroz e recheado



Há uns dois meses mais ou menos começamos a notar um maior interesse do Miguel nas letras. Durante todo o ano a escola vinha estimulando no processo de alfabetização e interesse na linguagem, de forma bem lúdica e leve, mas seu entusiasmo estava em outras áreas, digamos, mais físicas e esportivas.

Mas cerca de dois meses tudo mudou, ao ir comprar uma sfiha com o pai num restaurante árabe, após a saída da escola, ele arriscou “desembaralhar”as letras do cardápio escrito em letras graúdas próximo ao letreiro.

- PI-MEN- TAO, A-ROZ, RE-XE-A-DO.

E assim conseguiu, sozinho, ler suas primeiras palavras (pelo menos para nós), deixando pai puro orgulho e filho, uma felicidade só.  Quando cheguei em casa, os dois se alternavam em excitação para me contar  o ocorrido.

Esse foi só o primeiro passo no caminho desta descoberta que é o mundo da leitura. Ele anda, agora pela rua, lendo letreiros de ônibus e lojas com tamanha facilidade que é impressionante. Não sei se esta facilidade é dele, se é sucesso das professoras, ou nosso. Mas nos faz pensar se todo o analfabetismo do Brasil não poderia ser sanado facilmente em poucos meses com um pouco de incentivo e alegria.

Olhando para trás, penso no meu próprio processo de alfabetização, e volto constante a minha sala de aula e vejo com clareza as letras de fôrma (hoje chamadas de bastão) dispostas no quadro e consigo ler o que antes era tão difícil para mim. Confesso que o método atual de alfabetização fonético e não silábico me deixou apreensiva no início, mas funciona. 

Qualquer dia desses acordaremos pela manhã e ele estará sentado na sala lendo o jornal!


sábado, 11 de outubro de 2014

Cuidado com os animais

Outro dia, voltando para casa e conversando, Miguel surtou lembrando da história de dois muleques que maltrataram um cachorro dando molho de pimenta para ele beber. Foi uma reportagem que apareceu no jornal da TV há meses atrás.

Não sei porque ele foi lembrar disso, ele ficou arrasado e começou a chorar na rua com pena do bichinho.Na cabeça dele o cachorro havia morrido por causa da pimenta, sei lá. 

Fomos conversando para que ele se acalmasse, e no meio da conversa percebi que, apesar da tristeza pelo bichinho, havia também um conceito deturpado de que somente "bichinhos fofos"deveriam ser cuidados. Fui explicando que até uma minhoca deve ser respeitada, pois ela é um ser vivo, tem direito de estar na terá e tem uma função (aerar a terra para que possamos plantar os alimentos).  

Aos poucos ele foi se acalmando, e dando exemplo de outros animais "feios" que não deveriam ser maltratados.

Isso me fez pensar como é bom as crianças terem contato com animais desde cedo para desenvolverem o sentimento de compaixão e cuidado por outros seres vivos. 
 
Recomendo a todos os pais, mesmo um peixinho no aquário.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Paixão infantil



Sabemos que estamos ficando velhos quando nossos filhos começam a agir feito gente grande. Não importa a situação, contexto ou motivo, mas eles começam a ter um comportamento reflexivo e adulto, apesar de só terem 5 anos.

Foi no domingo quando uma amiga da sua ex-escola o chamou para brincar em casa, porque estava com muitas saudades. A amiga não era qualquer amiga, mas sua amiga especial, aquela por quem meu filho sempre dedicou afeição e carinho exclusivos por 2 anos e meio.

Ela não estava se sentindo muito bem e não poderia sair para brincar, então fomos a sua casa para brincadeiras “mais calmas” que se transformaram em corre-corre entre a sala e os quartos. Num dado momento, a mãe de nossa anfitriã saiu d quarto dizendo que a filha havia revelado o segredo que o Miguel havia lhe dito: ele estava apaixonado por outra (!), mas ela estava bem porque agora estava livre dele (?).

Depois de alguns risos de nós pais, o assunto foi deixado de lado. Não entendi bem o porquê de ele ter contado isso para sua desde sempre preferida. Será que ele não sabia que isso poderia magoá-la?  

No dia seguinte, após a escola, ficamos conversando sobre trivialidades e ele me disse que tinha um segredo para me contar, mas estava com vergonha. Tentei me acalmar e não rir, já desconfiada de que viria algum tipo de traquinagem ou anedota. Confiança conquistada ele começou a contar...

Havia levado uma flor para sua nova paixão da escola a A. Perguntei onde ele tinha conseguido a flor, e ele disse que havia pegado no jardim do prédio. Perguntei, então, qual havia sido a reação dela, e aí ele começou a fazer um milhão de caretas de pura vergonha, as logo falou que entregou a flor e disse a ela “Eu te amo”.

Enquanto me esforçava para expressar minha melhor cara de paisagem, meu coração dava pulos por estar compartilhando com ele mais este momento íntimo, puro e inocente de descoberta. E perguntei: “O que ela disse?” E ele responde: “Ela disse eu te amo também”.  E eles se abraçaram. E nós nos abraçamos.

Passado o episódio (que por sinal era um segredo que me foi pedido para não revelar ao pai), fiquei matutando e então entendi o porquê dele ter contado a V. sobre estar apaixonado por outra. Ele precisava jogar limpo, “liberá-la”, só assim ele pôde de fato se declarar para A.

Mas quando perguntei a ele sobre a V., como ela ia ficar, ele riu com o mesmo ar de vergonha e disse que ainda gosta muito dela. Então, quem sabe?

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Sobre macacos e pássaros


Hoje, pela manhã, eu e meu filho de cinco anos assistíamos ao noticiário na televisão. Na tela, aparece uma imagem em câmera lenta, permitindo aos espectadores decifrar o que uma torcedora da equipe Grêmio gritava em direção a um jogador da equipe do Santos. Meu filho perguntou o porquê da torcedora estar falando “devagar”, do que se tratava aquilo.

Por volta dos 43 minutos do segundo tempo, o jogo havia sido paralisado quando jogadores do Santos avisaram ao árbitro da partida, disputada em Porto Alegre, que o goleiro da equipe estava sendo vítima de racismo. Imagens da televisão flagraram uma torcedora (?) gritando a palavra “macaco”. Entrevistado, o goleiro Aranha afirmou que ouviu gritos de “negro fedido”, “seu preto” e “cambada de preto” e, após, um grupo de torcedores gremistas começou “a fazer barulho de macaco”. Inacreditavelmente, o juiz da partida mandou o jogo seguir.

Achei importante desenvolver o tema com meu filho. Expliquei que a torcedora (?) estava chamando um jogador adversário de “macaco” porque este jogador adversário tinha a pele escura, como os macacos, e que a intenção da torcedora (?) era dizer que o goleiro não era humano, e sim animal. E ser animal, neste caso, era pior do que ser humano. Disse a ele que isso é uma bobagem, que o jogador de pele escura não era pior do que ser humano coisíssima nenhuma, que a diferença na cor da pele não diz nada sobre a pessoa, se é legal ou chata (claro, tive que usar uma linguagem apropriada para uma criança de cinco anos).

Meu filho arremata meu argumento com o seguinte raciocínio: “ah, é que nem a gente que tem pele branca, que não é igual a um pássaro branquinho, não é?”. Vejam que a distinção que ele fez foi entre duas espécies da mesma cor, e não espécies de cor diferente. Ou seja, ele não diferenciou brancos e negros, e sim brancos humanos e brancos não humanos. Para ele, brancos e negros são gente, pássaros e macacos são animais.

O pequeno diálogo é a prova de que o racismo é aprendido, que o ódio não corre pelas veias, mas transmitido através da (des)educação, da desinformação e da desonestidade intelectual. Afinal, estudos recentes já demonstraram que, biologicamente, indivíduos com tons de pele muito distintas podem compartilhar mais de seu código genético do que indivíduos com tons de pele semelhantes ou “iguais” (como medir, não é mesmo?).  

Meu filho tem consciência da diferença da cor da pele que existe entre ele e seus colegas. Ele diz que a dele é “branca”, e a de um colega é “marrom”. Até aí, nada de mais, é apenas uma diferença que ele percebe objetivamente. A questão surge quando esta diferença objetiva adquire um significado, passa a representar algo que vai além da simples pigmentação; passa a simbolizar, por exemplo, de um lado, maior capacidade intelectual e, do outro, a estupidez próxima ao animalesco.


O mesmo acontece com os “olhos diferentes” que ele identifica nos imigrantes e descendentes de asiáticos (outra categoria construída que não dá conta das distinções entre povos e culturas daquele continente), apenas para chamar a minha atenção de uma conversa que ele teve no parquinho perto de casa, quando se aproximou dele e de um amigo um adulto de “olhos diferentes” e seu filho. São diferentes, não inferiores. Quem sabe compartilham gostos em comum? Ele vai descobrir aos poucos.

Meu filho provou como a educação, desde cedo, é importante para a construção de um mundo melhor, onde o respeito à diferença é um valor absoluto e a convivência é estimulada.

Ganhei meu dia. 

Comentário: Esse texto foi escrito pelo papai. Adoro ver o Miguel pelos olhos do pai, então compartilho com vocês. Também pode ser visto em : http://espacoacademico.wordpress.com/2014/08/30/sobre-macacos-e-passaros/

sábado, 23 de agosto de 2014

Ninguém cala esse nosso amor



Miguel foi hoje pela primeira vez ao Maracanã, ver seu time de coração. 
 
O jogo não era lá grandes coisas: Botafogo X Chapecoense, e o alvinegro precisava ganhar para sair da zona de rebaixamento, algo recorrente entre times grandes da primeira divisão. Mas por ser um jogo assim seria uma ótima oportunidade para levá-lo sem estresse de confusão. Conseguimos emprestadas as cadeiras cativas de um amigo de um amigo. O que era uma garantia a mais de conforto e tranqüilidade.

E lá fomos, eu e Miguel, de metrô rumo à estação Maracanã. Quando embarcamos no Largo do Machado, ele logo se entusiasmou ao ver outras pessoas trajadas com a camisa do mesmo time, e percebeu aquela troca de olhares de cumplicidade de quem compartilha um segredo comum, a paixão pelo Botafogo.

Mas foi na estação Estácio que a “ficha caiu”, ficou enlouquecido com a quantidade de pessoas, de todas as idades (inclusive bebê de colo) com diversos modelos diferentes de "estrela solitária" estampadas em suas blusas, e com a cantoria em uníssono do hino do Glorioso.

Ele virou para mim, ainda na estação, e disse que estava emocionado e que queria chorar. E me abraçou. Meus olhos encheram-se de lágrimas, eu quis chorar também.

Quando desembarcamos no Maracanã e ele viu aquela monstruosidade crescendo em nossa direção, não parava de pular e queria correr para chegar logo. Realmente ver o estádio todo iluminado para um jogo é incrível, especialmente quando você tem um pouco mais de 1 metro de altura e 5 anos de idade.

Gritou quando fizemos gol, fez “uruca” contra os “verdinhos”do Chapecoense e falou alguns palavrões (que são permitidos somente em estádios de futebol) em jogadas tensas, enfim, torceu. Fez uma única reivindicação, queria sentar com a torcida, eu entendo, eu também gosta de sentar com a “muvuca’, respondi que na próxima iríamos.


E quando o jogo acabou, na hora de ir embora, me agradeceu e disse que nem estava cansado (e eu até achei que ele ia pedir para sai no intervalo).

Eu nem podia imaginar que este passeio teria toda esta emoção, achei que ele iria curtir o estádio, sei lá, mas não a emoção que ele me revelou. 

Lembrei de um jogo que assisti com meus pais (talvez tenha sido minha primeira vez), um Botafogo X Flamengo, e de ser engolida por uma multidão de flâmulas de ambos os lados de um estádio lotado, diferente de ontem. Acho que naquele perdemos, eu não sei, mas não importou para mim. Era o sentimento de pertencer a algo maior, de estar conectada a minha família que, à exceção da minha mãe que na época era rubro negra, torcia pelo Fogão.

Torcer para o Botafogo nunca teve a ver com vitória, mas com este sentimento de pertencimento, mas sim com a memória de um time que nunca vi jogar com  Heleno e Garrincha, de relatos de minha avó, e pela conexão que ele sempre me fez ter com a história da minha família, com uma volta ao passado.

Eu não me importo se ele crescer e quiser mudar de time, esta é uma escolha dele, mas esta primeira vez vai ficar pra nós dois pra sempre.

sábado, 16 de agosto de 2014

Miguel Ninja



Hoje foi um desses “mamãe e Miguel Day of fun”!

Tenho que confessar que quando planejo um desses dia eu fico meio temerosa porque nunca sei como as coisas vão terminar, mas o dia de hoje foi espetacular!

Papai tinha um compromisso de voltar a jogar bola e reconquistar um tempo seu, e eu convidei Miguel para ir ao cinema ver uma refilmagem das Tartarugas Ninja. Estava um pouco preocupada porque o trailer do filme não foi lá muito inspirador, umas tartarugas de 1, 80 m e saradas, num filme escuro estilo Batman, sessão 12 anos, mas arrisquei assim mesmo.

Fomos comprar os ingressos por volta de maio dia e depois almoçar na Galeria São Luiz. Miguel escolheu um bistrôzinho novo, e pediu quiche de alho poro com suco de morango ao leite. Indicou a mesa em que queria se sentar, uma mais no canto com dois lugares, porque nós éramos dois. E todo meninão, comeu sozinho, e puxou conversa comigo durante o almoço perguntando se o filme seria legal e se eu tinha ficado do trailer que tínhamos visto no corredor da Galeria (do filme Hércules), que ele tinha achado muito violento, e ainda fazendo referências sobre acontecimentos da semana em sua escola.

Ao terminarmos, ele me cobrou por não ter comido tudo que estava no prato e eu disse que estava com a barriga cheia, como ele quando não quer comer tudo. E ele disse que queria pagar a conta. Dei o meu cartão para que ele pudesse entregar à garçonete, mas acabou que eu mesma digitei a senha para evitar erros e bloquear o meu único cartão.

Então seguimos para o banheiro para lavar as mãos, onde ele morreu de rir ao secar naquelas máquinas de ar, que por sinal estava muito forte, e fazia com que seu cabelo voasse para trás.

Esperamos mais um pouco e entramos no cinema. Todos curtiram sua roupa de Tartaruga Ninja, ele estava com o casaco e camiseta que havíamos comprado em L.A. no ano passado, e quando vestia o capuz do casaco, surgia uma máscara igual a das personagens sobre seus olhos.

Entramos e nos sentamos. Como previ, o filme foi meio sombrio, mas havia algumas piadas que Miguel entendeu e riu. Não foi violento, embora muita ação. Ah, e tinha a Megan Fox! Essa, ele adorou!

Terminado, ele ainda me esperou calmamente na saída para irmos de mãos dadas pela rua, debatendo quais foram as melhores cenas.

Incrível! Nossa relação está amadurecendo, sei que não será assim todos os dias, mas quando nós dois estamos dispostos a nos entregar e fazer do dia, um dia legal, de fato teremos um dia maravilhoso.

terça-feira, 29 de julho de 2014

Pesadelos: a voz da psique



Noite passada Miguel acordou agitado e pediu ao pai para ir a seu quarto para fazê-lo dormir novamente. Depois que retornou para cama, Miguel levantou-se mais uma vez, então eu fui coloca-la na cama, algo que não acontece nunca, por preferência dele mesmo.

Enquanto o arrumava para deitar, ele reclamava que eu não ia me demorar no quarto e que ele não iria conseguir dormir. Pediu para acender a luz do abajur e de repente começou a chorar, um chorinho leve, quase sem lágrimas, mas sentido. Perguntei o que estava havendo já que isso não era possível àquela hora da madrugada. Então ele disse que estava com medo de dormir e não conseguir abrir os olhos por conta do pesadelo. Pedi a ele para me contar que isso faria com que o medo passasse, mas ele disse que não, que seria o oposto, que não poderia me contar.

Fui eu então contei a ele sobre meu pesadelo recorrente, não de criança, já de adulta, eu vivia a fugir de um palhaço com capa, garras e destes de tubarão. Até que um dia, no meu sonho, eu parei de correr e fui na direção do palhaço gritando bem alto (nesta hora o Miguel riu). Depois deste dia nunca mais eu tive este pesadelo, porque eu enfrentei o meu medo, o meu monstro. 

E assim ele me contou, que o pesadelo dele era um homem muito feio com cara de monstro que entrava dentro do corpo dele, tal como um fantasma, e o fazia fazer coisas que ele não queria, tomando conta da vontade dele, e quando ele queria abrir os olhos para acordar, não conseguia. Fiquei tão chocada quando ouvi este relato porque na hora me lembrei do filme Twin Peaks em que a trama se passava com um espírito (Bob) que invadia o corpo da personagem principal e a fazia ser uma “menina má”, até hoje eu tenho medo de me olhar no espelho e ver outra pessoa dentro de mim, e de repente o pesadelo do meu filho e um medo que eu mesma tenho.


Engoli meu próprio desalento e assumi meu papel de mãe. Falei para o Miguel que ele poderia enfrentar o monstro dele também. Que não existem fantasmas que entram no corpo da gente e que a casa dele é protegida. Mas se ele quisesse poderia solicitar a proteção das bisas Betinha e Lula que estavam no céu dos anjos e poderiam protegê-lo. Ele disse que elas não poderiam voar do céu até a terra e que ele teria que enfrentar o medo sozinho.

Fiz um feitiço de proteção de mãe, dei boa noite, o cobri e saí do quarto. Eu estava aterrorizada, pelos meus próprios fantasmas.

No dia seguinte comentando o ocorrido com a Vovucha, ela se espantou com a forma com a qual ele traduziu em seu inconsciente as dificuldades que vem enfrentando, tentando ser um bom menino, evitando pensamentos ruins que o fazem agir de maneira não adequada, bagunceira e por vezes pirracenta. 

Seriam estes pensamentos “maus” o vilão do pesadelo do meu filho? Miguel conseguiu ouvir o que sua psique está tentando lhe falar, que existe algo dentro dele que o faz agir sem o seu controle. Será que estamos tentando controlar (ou seria socializar? adestrar? castrar?) a natureza inocente da criança, a ponto de fazê-la escapulir à noite? Até que ponto temos que seguir regras e até que ponto que ouvir nossos corações? Por que o que é selvagem/natural/fora de controle tem que ser interpretado como mal ou perigoso? 

Não tenho respostas... que venha a próxima noite.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Eu queria ser um gatinho



Miguel acordou pela manhã chorando e resmungando que não queria voltar para escola hoje. Queria ficar em casa comigo, porque eu ainda estou de férias. Louvável.

Às 7:30 da manhã estávamos sentados no sofá da sala conversando sobre os porquês de ir à escola: 


  1. Na escola não pode ficar brincando o tempo inteiro. É verdade na escola tem uma hora para a brincadeira e uma hora para a sala de aula. Mas na sala de aula tem jogo de tabuleiro? Tem. Na sala de aula de invenção de histórias? Tem. Na sala de aula de passa anel? Tem. Na sala de aula tem forca? Tem. Na sala de aula tem adivinhação? Tem. E isso tudo é o quê, não são um monte de brincadeiras? (Ele deu uma risadinha sem graça e disse que isso não valia, ele queria dizer que tinha pouco pátio). Ah...  Mas tem brincadeira na escola.  
  2. Ele não queria aprender matemática. Enquanto eu batia palmas de forma cadenciada, falava como a matemática está presente em tudo na nossa vida, em especial em algo de que ele gosta muito, a música. E que se não acredita em mim que pergunte ao professor de música. E que a matemática também serve para nos ensinar a contar o dinheiro do cofrinho que ele está juntando para ir à Disney (arranquei um sorriso dele).
  3.  E o mais importante. Uma coisa que ele vive me perguntando como eu sei e ele não. A escola é importante para nos ensinar a ler! Como ele vai aprender a ler os livros e gibis dele sem ir à escola? A professora tem feito um monte de brincadeiras com letras e logo ele vai estar fazendo as junções sozinho, sem nem perceber. Mas para isso precisa ir para a escola.


Passada a crise inicial, começamos o dia. E o dia passou bem até a hora do banho, quando Miguel disse que queria ser um gatinho.

Perguntei por que ele queria ser um gatinho, e ele respondeu que era porque ninguém brigava com os gatinhos. Eu disse que não era bem assim, que eu brigava com todos os nossos gatinhos, principalmente quando eles faziam bagunça. E que achava ele parecido com o Leopoldo (nosso filhote).

Miguel começou a chorar copiosamente, de uma forma que eu nunca vi antes, me assustou. Quanto mais eu tentava consola-lo, mais ele chorava e se jogava no chão do banheiro. Levou um tempo para eu entender.

Ele queria ser um gatinho porque eles são fofinhos e ninguém briga com eles, quando eu disse que brigava com os gatos e o comparei com o mais levado ele achou que eu estava dizendo que ele era levado. Foi aí que eu entendi o quanto sua autoestima está abalada, provavelmente pelas idas à coordenação da escola, na tentativa de se adaptar a um novo conjunto de regras. 

Tentei lembra-lo de como é um menino bom e doce, e de que todos erramos, mas somos feitos de muitos mais acertos que erros. Lembrei da história do ponto preto na folha branca. Pra que só olhar para o ponto preto, e o resto da folha branca?
Por último disse que sabia que tinha alguma coisa dentro dele que ele não sabia nomear, dizer o que era, e que estava incomodando e que toda vez que esse sentimento aparecesse era para ele vir no meu colo e me abraçar. Neste momento ele me abraçou e beijou, e começou a se acalmar.

domingo, 29 de junho de 2014

Independência Futebol Clube

Sempre faço de tudo para que o Miguel seja independente e tenha suas vontades, mesmo  que não combinem com as minhas.

Outro dia o levei ao shopping pela primeira vez para fazer compras, normalmente eu compro o que quero e tá beleza. Mas desta vez queria um momento nosso, ele precisava de tênis e achei que seria legal. 

Passamos em frente a uma vitrine e ele logo criticou os modelos expostos e começou a descrever mais ou menos  o que ele queria, algo parecido com uma chuteira. Talvez o clima Copa do Mundo, ou simplesmente o fato de ser menino, não importa. 

Tracei um roteiro de lojas na  minha cabeça e fui em frente. Por sorte logo na segunda encontramos algo neste estilo. De cara ele apanhou um par de tênis de cor laranja, peguei o mesmo modelo em azul, achando que combinaria mais e ele aceitou experimentar os dois. Depois de calçá-los me perguntou se poderia levar os dois, eu disse que não dava porque o pé iria crescer e ele acabaria perdendo o tênis, então ele escolheu o laranja. Eu disse que preferia o outro, mas ele sustentou sua decisão e já queria sair com sapato novo na mesma hora. Ainda teve um momento em que ele ainda pensou em me agradar com o outro, mas disse que ele te que escolher o que gostava mais.E não é que ficou maneiro?!

Hoje Miguel levantou, saiu da sala e foi até a cozinha. Ouvimos uma série de pequenos barulhos - armário se abrindo,gaveta, geladeira, pote de vidro. De repente ele volta para a sala com seu prato de café da manhã:um pratinho com três biscoitos maisena cada um com um fio de doce de leite. Vou correndo na cozinha ver o "desastre" que sobrou e não encontro nada. Inclusive o doce de leite está de volta guardado na geladeira.

 Após o café, pedi a ele que trocasse de roupa e arrumasse a cama. Depois de tanta desenvoltura no preparo culinário do desjejum, eu deveria ter gravado ele praguejando enquanto arrumava a cama, e se amaldiçoando porque tem 5 anos e não era mais um bebezinho chato que pelo menos todo mundo faz tudo para eles. Vai entender os geminianos.


Isso é a fase dos 5 anos de crianças independentes!  E a gente tem que acompanhar ou se perde no caminho.