Como tudo começou?

Enquanto revia vídeos e fotografias do meu pequeno de 4 anos (hoje com 7), que teima em crescer mais rápido do que eu consigo acompanhar, aproveitei para reler os diários que fiz desde a gravidez aos dias de hoje sobre cada momento (que julguei importante, essa ideia eu tive com a minha sogra que até hoje guarda escritos sobre fofurices do meu marido quando criança) registrado para que as trapaças da memória não as apagassem.


Foi neste caminho de reviver o passado que me descobri saudosa e percebi que precisava compartilhar as lembranças antes que esmaecessem sob a luz do dia a dia. Então, resolvi que postaria para amigos, familiares e outros curiosos do mundo pedaços desta minha vida, e ainda de lambuja deixar para o meu pimpolho histórias sobre ele mesmo para que um dia leia e sinta como foi esta jornada de chegar ao mundo e traçar seus próprios caminhos.


Espero que gostem e se emocionem um pouco, assim como eu ao revisitar minha história, e se entusiasmem para fazer uma visita à história de vocês.
Sejam bem vindos às "histórias sobre meu filho".

domingo, 7 de dezembro de 2014

Galo ou Galinha

Para encerramento do ano letivo e projeto acadêmico deste ano, a nova escola do Miguel sugeriu que as crianças interpretassem a peça Os Saltimbancos (já que o projeto do semestre foi O Teatro).

Todos achamos o máximo eles reviverem as músicas de Chico Buarque, que representam tão bem a peça. E de nossa parte também iríamos reviver nossa infâncias através de nossos filhos.

A professora deixou que cada um escolhesse qual animal da peça seria, tomando o cuidado para que não ficasse nenhum bicho sem representante. Fiquei surpresa quando Miguel me disse que seria uma galinha. Na minha opinião sempre foi o bicho menos interessante da histórias, mas OK. Pergunta daqui, puxa dali, entendemos o interesse dele na penada,  A. também seria uma galinha. Ahhhhhh.

Corri para preparar uma fantasia bacana, com penas mesmo, e nada muito sintético. falei para ele que faríamos então uma fantasia de galo e corri para o abraço. Todos os dias era uma cantoria sem fim no chuveiro, quando na era a musica da galinha, era uma outra qualquer do repertório Saltimbanco.

Às vésperas da apresentação, na semana mesmo, ouvi Miguel dizendo que não queria na apresentação porque estaria cansado. Como poderia antever seu cansaço em dia e hora específico? Não dei importância na hora, achando que se tratava de algum programa na TV que ele quisesses assistir na mesma hora. 

Mas no dia da apresentação ele me contou que não queria mais ser galinha, mas jumento ou cachorro, não me lembro direito. Me espantei. O que houve? O que aconteceu? A resposta era simples, ele queria mudar e não dava mais tempo. Os colegas disseram que não havia galo na história, somente galinha e que isso era coisa de menina. Ui!

Depois de alguns minutos de conversa, consegui convence-lo a ir, a participar, afinal eu mesma já havia sido um Apolo numa peça de teatro quando criança. Falei que os atores não têm sexo, são personagens e que quando estão no palco são outras pessoas diferentes deles na vida real. Ele topou se vestiu e foi. Alegre e entusiasmado. Porem, assim que tirou o roupão (ah, sim, ele insistiu em ir de roupão e fazer uma entrada triunfal) uma amigo disse que ele parecia uma menina. O tempo  fechou, ele cantou, mas todo apagadinho, sem um sorriso nos lábios.

Filmei e fotografei, ele estava lindo, foi super emocionante e incrível. Mas que diabos estas crianças tem na cabeça, galinha é galinha. Tinha menina de cachorro e menino de gato e ninguém falou nada. É teatro!  É sonho! É criatividade!

É assim que começa o preconceito, e que a inocência dá lugar à ignorância.

Ainda teve quem dissesse que ele teria que aprender a lidar com este tipo de situação e que eu estava dando muita importância. Será exagero meu reagir ao ver meu filho triste, por ele perder o entusiasmo por algo por conta do preconceito de outra pessoa?

Desejo que o coração do meu filho permaneça puro e inocente por muito tempo mais, antes que seja maculado pelo medo, pela amargura da vergonha, pela intolerância. Que ele sempre veja o mundo sob uma perspectiva criativa, e idílica.

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