Como tudo começou?

Enquanto revia vídeos e fotografias do meu pequeno de 4 anos (hoje com 7), que teima em crescer mais rápido do que eu consigo acompanhar, aproveitei para reler os diários que fiz desde a gravidez aos dias de hoje sobre cada momento (que julguei importante, essa ideia eu tive com a minha sogra que até hoje guarda escritos sobre fofurices do meu marido quando criança) registrado para que as trapaças da memória não as apagassem.


Foi neste caminho de reviver o passado que me descobri saudosa e percebi que precisava compartilhar as lembranças antes que esmaecessem sob a luz do dia a dia. Então, resolvi que postaria para amigos, familiares e outros curiosos do mundo pedaços desta minha vida, e ainda de lambuja deixar para o meu pimpolho histórias sobre ele mesmo para que um dia leia e sinta como foi esta jornada de chegar ao mundo e traçar seus próprios caminhos.


Espero que gostem e se emocionem um pouco, assim como eu ao revisitar minha história, e se entusiasmem para fazer uma visita à história de vocês.
Sejam bem vindos às "histórias sobre meu filho".

quinta-feira, 20 de março de 2014

Primos - parte 2

O projeto do semestre da escola do Miguel é sobre índio. 

Então,  começo a falar que existem grupos indígenas que casam entre primos (para ele poder falar algo diferente na aula e tal), de repente ele me olha com cara engraçada como quem quer rir. 

Viro para ele pergunto: 

- Você tem alguma prima com quem queira casar? Não tem problema casar com primo.

Vou dizer o que?

Ele me pede para não falar nada que ele vai falar bem rápido, me pede para colocar a mão sobre a boca, só para garantir, e diz: 

- Laura. - A palavra quase não, sai, é sussurro rouco em sua voz infantil.

E começa a rir, e completa:

- Mas só se ela ficar bonita.

 Agora inventou que vai casar com a prima que não tem nem um ano, posso com isso?

segunda-feira, 17 de março de 2014

Primos

Quando nasceu a prima (por parte de pai) do Miguel todos ficaram em cima dele esperando que ele tivesse uma reação de ciúmes a qualquer momento, como se é esperando de uma criança nascida em uma família que só tem adultos quando finalmente nasce uma segunda criança.

Acontece que eu fiz de tudo para que ele se sentisse amado e querido a ponto de não precisar ter este tipo de sentimento, embora eu reconheça que não podemos dominar sempre o que sentimos.

Toda vez que nos encontramos com a prima, ele se esconde e esgueira, enquanto um amontoado de adultos ficam o cercando e falando que ela o adora (e ela não tem nem 1 aninho) e que faz carinho nas fotos dele, e que ele deveria brincar com ela e coisa e tal. Mas quando não tem ninguém olhando, ele é carinhoso com ela e faz pequenos mimos.

Às vezes penso que eles nunca vão se relacionar porque entre nós e os tios existem algumas diferenças de gostos e estilos de vida que por vezes nos afastam mesmo sem querer.

Na comemoração das bodas de 40 anos dos avós, Miguel virou-se para vovô J. E pausadamente, sílaba por sílaba, fez uma pergunta inesperada:

- Vovô, se-rá-que- um-dia- eu-po-de-rei-na-mo-rar-a-L.?

Vovô pego de surpresa por este questionamento, respondeu que se ela for bonita e principalmente, legal, pode sim. E morreu o assunto, sem mais nenhum outro comentário de nenhuma das partes.


Então é isso, adulto é um bicho bobo mesmo, sempre se preocupando e antecipando problemas que de fato só existem em nossas mentes, reproduzindo histórias de nossas vidas e trazendo para a vida de nossas crianças sem permitir que eles construam suas próprias trajetórias e que estas sejam diferentes das nossas.



Que ciúme que nada, Miguel estava apenas observando, comendo pelas beiradas para ver até onde pode ir. Vá longe, meu filho!

domingo, 16 de março de 2014

Ser mãe de menino

Ser mãe de menino é um desafio tremendo, a gente não tem direito de falhar porque estamos criando os líderes do futuro. E o que nós queremos para este futuro é o que guiará a nossa forma de educar estes meninos.

Penso nisto todos os dias, e me angustio.

Vejo mães terríveis, não porque maltrataram seus meninos, mas porque os protegeram demais, os cercaram demais e acabaram fazendo por eles. Para que sejam fortes e independentes, temos que deixa-los cair, teremos que ser nós as primeiras pessoas a frustra-los e magoa-los ao impor limites e dizer “nãos”. E isso dói, afinal quando nascem são tão indefesos e lindinhos!

Mas não podemos vê-los como nossos, eles não nos pertencem, eles são e serão do mundo, governarão, viajarão, descobrirão seus caminhos e farão suas próprias escolhas, e tudo isso independente de todo o “talquinho que passamos em seus bumbuns”.

Me angustia ver mães de meninos trazendo água para eles e não o ensinando a pegar seus próprios copos, sem saber elas os estão transformando em homens acomodados. Me preocupa aquelas mães que nunca pediram a um filho para pagar uma conta (hoje com debito em conta parece démodé mas houve um tempo em que crianças enfrentava a fila do caixa para seus pais) no banco, estes não saberão por onde começar quando forem adultos. E por aí vai...

Ao criarmos um menino temos que ser verdadeiras e ainda incentivar o mundo da fantasia para que não deixem de viver a infância, deixá-los viver o mundo da rua, com árvores, bolas, skates e pipas, e o da casa com videogames e livros.
Temos que ensiná-los o lugar da brincadeira de luta, porque elas existem, mas não deixar de falar que quando crescerem elas ficarão para trás, porque brigar não é legal.

Ensinar que põem brincar com as meninas também que elas estarão sempre ao lado deles e que devem respeitar as diferenças. Que é possível ser amigo daqueles que gostam de coisas diferentes deles, para que possam quando adultos ser mais tolerantes com as divergências.

E ensinar o respeito pelos amigos, pela natureza, pelos animais.

Mas o mais difícil é aceitar que no meio disso tudo, nós mães poderemos ser deixadas em segundo, terceiro, quarto ou até em último lugar, e que nem por isso eles vão deixar de nos amar, e nós a eles. Que independente das escolhas que façam é a relação que construímos agora que irá nos manter unidos para sempre, sempre baseados no amor e na confiança.


Então para ser mãe de menino não adianta guardar a cria embaixo da asa, e sim solta-la no mundo, com a certeza de que eles saberão sempre o caminho de volta para casa, e para  os nossos braços.

sexta-feira, 14 de março de 2014

Rótulo - "Eu sou o problema"

Fomos chamados para conversar na escola sobre a adaptação do Miguel à nova escola e algumas dificuldades que eles vem enfrentando. Desde seu ingresso na nova ordem acadêmica, vimos recebendo algumas anotações na agenda bastante preocupantes e obviamente percebemos seu inquietamento no momento de seguir para aula.

Mas nada foi mais terrível que a nota que dizia que ele havia agredido um colega. Aquilo foi assustador para nós. Nunca havíamos recebido qualquer reclamação deste tipo sobre o nosso filho, não que ele seja perfeito porque sabemos que não é, mas bater nunca foi um dos itens de suas traquinagens.

Mil teorias passaram em nossas mentes: Será que antiga escola era permissiva demais com o comportamento das crianças em sala de aula? Será que a nova escola é rigorosa demais? No ano passado tivemos uma série de problemas de cunho administrativo na outra escola, será que isso nos levou a uma total falta de autoridade em sala de aula? Mas e antes disso, porque nunca recebi bilhetes ou fui chamada? Será que ele antes era um santo e de repente virou o demônio?

Enfim, sem saber o que estava acontecendo de verdade com o meu filho durante aquelas as horas em que ficava longe, começamos a elaborar diversos e os mais loucos pensamentos. Recuperei em minha lembranças minhas próprias histórias de adaptação, resistência e travessura de quando tinha uns 6 anos e rasguei meu livro de alfabetização porque não gostava da forma autoritária da professora, então entendo como ocorre essa medição de forças entre as crianças e os adultos nesta idade. Pedi ajuda a minha mãe, que encontrou em seus guardados um livro de contos crianças travessas que lutaram para enfrentar os pensamentos mal (travessos) para que eu pudesse ler para ele, mudando minha abordagem de conversas.

Até que houve um momento em que ele me disse que queria voltar para antiga escola. Foi aí que minha ficha caiu. Ele estava fazendo algumas coisas de propósito e por dois motivos: 1) ele estava buscando uma forma de desistir da nova escola para que voltássemos ao antigo, conhecido e confortável – resistência mesmo, velada, mas resistência; 2) ele estava repetindo o modus operandi da antiga escola na nova procurando encontrar seus espaço, seu spot, mas de alguma forma o que antes era engraçado e chamava atenção, agora para os novos colegas não tinha graça, não tinha espaço.

Fomos eu e o pai para a reunião com a psicóloga da escola onde soubemos ainda de outros fatos, numa de suas idas à coordenação, meu filho contou que o ambiente familiar em casa era perfeito (contou com riqueza de detalhes) e que no fundo ele era o problema (e ainda se virou para a psicóloga e perguntou se ela estava anotando tudo direitinho, afe!). Naquele instante eu me senti reduzida ao tamanho de um verme. O que havíamos feito para que ele se sentisse como sendo um problema?!

Rótulos, estas malditas frases que falamos sem pensar para descrever (e reduzir) uma pessoa a um significado momentâneo e que a marca/estigmatiza para o resto da vida. Rótulos! Ainda me lembro que minha tia e minha avó costumavam me chamar de monstro porque eu tinha/tenho um temperamento explosivo sempre imprevisível de quando poderia ter um rompante de energia e emoções.

Então o rótulo do meu filho era esse, levado, bagunceiro, desobediente aquele que sempre ia para o “cantinho do pensamento”, e isso o levou a se auto-proclamar “um problema”. Nossa obrigação é desconstruir esta ideia antes que fique internalizada demais para que de fato se torne um problema. De posse desta valiosa informação pude começar a mudar a forma como estava lidando com ele, para de fato ajudá-lo a passar por isso.


Conversamos outros assuntos na reunião da escola sobre como fazê-lo se interessar mais pela turma e afeta-lo, envolvê-lo. Saímos munidos de confiança e esperança de que podemos, com passos pequenos e ações delicadas ajudar o nosso amor. Agora é seguir em frente com uma nova tática e forma de nos relacionarmos com nosso Miguel.

segunda-feira, 3 de março de 2014

Outra vida

Sempre digo ao Miguel que escolhemos nascer e os pais que temos porque de fato acredito nisso. Acho que ele gostou desta ideia porque volta e meia ele ma fala que quando nascer de novo vai me escolher como mãe novamente. Deve ser a maneira dele dizer que está satisfeito com a nossa relação, nossa intimidade.

De vez em quando ele coloca o pai nesta história e diz que vai escolhê-lo também. Mas sempre fica nisso.

Houve uma vez que em que para me sacanear ele disse que na hora que ia escolher mãe, ele tinha escolhido outra mulher e já estava pronto para nascer, mas eu havia passado na frente desta outra mãe e ele se confundiu e acabou me escolhendo. Muito debochado!

Hoje ele acordou falando neste assunto novamente, um assunto que tem ficado cada vez mais recorrente aqui em casa, mas desta vez ele mudou o grupo de sua escolha:

- Mamãe, quando eu virar anjinho e nascer de novo eu vou querer escolher você de novo, e até o papai, e a vovucha, e o vovô F., e a vovó S. e o vovô J. Ta bom?

- Ta bom. Você vai escolher todo mundo? E você já perguntou se eles vão querer?

- Ah, vão sim, porque eu que escolhi eles.


Ok, levantei uma sobrancelha e sorri. Além de ele ter o poder da escolha, os outros tem que gostar porque ele é simplesmente o máximo! Que convencido este meu filho. Espero que toda esta nossa teoria supra as necessidade de entendimento do mundo para ele durante um bom tempo...