Como tudo começou?

Enquanto revia vídeos e fotografias do meu pequeno de 4 anos (hoje com 7), que teima em crescer mais rápido do que eu consigo acompanhar, aproveitei para reler os diários que fiz desde a gravidez aos dias de hoje sobre cada momento (que julguei importante, essa ideia eu tive com a minha sogra que até hoje guarda escritos sobre fofurices do meu marido quando criança) registrado para que as trapaças da memória não as apagassem.


Foi neste caminho de reviver o passado que me descobri saudosa e percebi que precisava compartilhar as lembranças antes que esmaecessem sob a luz do dia a dia. Então, resolvi que postaria para amigos, familiares e outros curiosos do mundo pedaços desta minha vida, e ainda de lambuja deixar para o meu pimpolho histórias sobre ele mesmo para que um dia leia e sinta como foi esta jornada de chegar ao mundo e traçar seus próprios caminhos.


Espero que gostem e se emocionem um pouco, assim como eu ao revisitar minha história, e se entusiasmem para fazer uma visita à história de vocês.
Sejam bem vindos às "histórias sobre meu filho".

sexta-feira, 14 de março de 2014

Rótulo - "Eu sou o problema"

Fomos chamados para conversar na escola sobre a adaptação do Miguel à nova escola e algumas dificuldades que eles vem enfrentando. Desde seu ingresso na nova ordem acadêmica, vimos recebendo algumas anotações na agenda bastante preocupantes e obviamente percebemos seu inquietamento no momento de seguir para aula.

Mas nada foi mais terrível que a nota que dizia que ele havia agredido um colega. Aquilo foi assustador para nós. Nunca havíamos recebido qualquer reclamação deste tipo sobre o nosso filho, não que ele seja perfeito porque sabemos que não é, mas bater nunca foi um dos itens de suas traquinagens.

Mil teorias passaram em nossas mentes: Será que antiga escola era permissiva demais com o comportamento das crianças em sala de aula? Será que a nova escola é rigorosa demais? No ano passado tivemos uma série de problemas de cunho administrativo na outra escola, será que isso nos levou a uma total falta de autoridade em sala de aula? Mas e antes disso, porque nunca recebi bilhetes ou fui chamada? Será que ele antes era um santo e de repente virou o demônio?

Enfim, sem saber o que estava acontecendo de verdade com o meu filho durante aquelas as horas em que ficava longe, começamos a elaborar diversos e os mais loucos pensamentos. Recuperei em minha lembranças minhas próprias histórias de adaptação, resistência e travessura de quando tinha uns 6 anos e rasguei meu livro de alfabetização porque não gostava da forma autoritária da professora, então entendo como ocorre essa medição de forças entre as crianças e os adultos nesta idade. Pedi ajuda a minha mãe, que encontrou em seus guardados um livro de contos crianças travessas que lutaram para enfrentar os pensamentos mal (travessos) para que eu pudesse ler para ele, mudando minha abordagem de conversas.

Até que houve um momento em que ele me disse que queria voltar para antiga escola. Foi aí que minha ficha caiu. Ele estava fazendo algumas coisas de propósito e por dois motivos: 1) ele estava buscando uma forma de desistir da nova escola para que voltássemos ao antigo, conhecido e confortável – resistência mesmo, velada, mas resistência; 2) ele estava repetindo o modus operandi da antiga escola na nova procurando encontrar seus espaço, seu spot, mas de alguma forma o que antes era engraçado e chamava atenção, agora para os novos colegas não tinha graça, não tinha espaço.

Fomos eu e o pai para a reunião com a psicóloga da escola onde soubemos ainda de outros fatos, numa de suas idas à coordenação, meu filho contou que o ambiente familiar em casa era perfeito (contou com riqueza de detalhes) e que no fundo ele era o problema (e ainda se virou para a psicóloga e perguntou se ela estava anotando tudo direitinho, afe!). Naquele instante eu me senti reduzida ao tamanho de um verme. O que havíamos feito para que ele se sentisse como sendo um problema?!

Rótulos, estas malditas frases que falamos sem pensar para descrever (e reduzir) uma pessoa a um significado momentâneo e que a marca/estigmatiza para o resto da vida. Rótulos! Ainda me lembro que minha tia e minha avó costumavam me chamar de monstro porque eu tinha/tenho um temperamento explosivo sempre imprevisível de quando poderia ter um rompante de energia e emoções.

Então o rótulo do meu filho era esse, levado, bagunceiro, desobediente aquele que sempre ia para o “cantinho do pensamento”, e isso o levou a se auto-proclamar “um problema”. Nossa obrigação é desconstruir esta ideia antes que fique internalizada demais para que de fato se torne um problema. De posse desta valiosa informação pude começar a mudar a forma como estava lidando com ele, para de fato ajudá-lo a passar por isso.


Conversamos outros assuntos na reunião da escola sobre como fazê-lo se interessar mais pela turma e afeta-lo, envolvê-lo. Saímos munidos de confiança e esperança de que podemos, com passos pequenos e ações delicadas ajudar o nosso amor. Agora é seguir em frente com uma nova tática e forma de nos relacionarmos com nosso Miguel.

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