Fomos chamados
para conversar na escola sobre a adaptação do Miguel à nova escola e algumas
dificuldades que eles vem enfrentando. Desde seu ingresso na nova ordem acadêmica,
vimos recebendo algumas anotações na agenda bastante preocupantes e obviamente
percebemos seu inquietamento no momento de seguir para aula.
Mas nada foi
mais terrível que a nota que dizia que ele havia agredido um colega. Aquilo foi
assustador para nós. Nunca havíamos recebido qualquer reclamação deste tipo
sobre o nosso filho, não que ele seja perfeito porque sabemos que não é, mas
bater nunca foi um dos itens de suas traquinagens.
Mil teorias
passaram em nossas mentes: Será que antiga escola era permissiva demais com o
comportamento das crianças em sala de aula? Será que a nova escola é rigorosa
demais? No ano passado tivemos uma série de problemas de cunho administrativo
na outra escola, será que isso nos levou a uma total falta de autoridade em
sala de aula? Mas e antes disso, porque nunca recebi bilhetes ou fui chamada? Será
que ele antes era um santo e de repente virou o demônio?
Enfim, sem saber
o que estava acontecendo de verdade com o meu filho durante aquelas as horas em
que ficava longe, começamos a elaborar diversos e os mais loucos pensamentos. Recuperei
em minha lembranças minhas próprias histórias de adaptação, resistência e
travessura de quando tinha uns 6 anos e rasguei meu livro de alfabetização
porque não gostava da forma autoritária da professora, então entendo como
ocorre essa medição de forças entre as crianças e os adultos nesta idade. Pedi
ajuda a minha mãe, que encontrou em seus guardados um livro de contos crianças
travessas que lutaram para enfrentar os pensamentos mal (travessos) para que eu
pudesse ler para ele, mudando minha abordagem de conversas.
Até que houve um
momento em que ele me disse que queria voltar para antiga escola. Foi aí que
minha ficha caiu. Ele estava fazendo algumas coisas de propósito e por dois
motivos: 1) ele estava buscando uma forma de desistir da nova escola para que
voltássemos ao antigo, conhecido e confortável – resistência mesmo, velada, mas
resistência; 2) ele estava repetindo o modus operandi da antiga escola na nova
procurando encontrar seus espaço, seu spot, mas de alguma forma o que antes era
engraçado e chamava atenção, agora para os novos colegas não tinha graça, não
tinha espaço.
Fomos eu e o pai
para a reunião com a psicóloga da escola onde soubemos ainda de outros fatos,
numa de suas idas à coordenação, meu filho contou que o ambiente familiar em
casa era perfeito (contou com riqueza de detalhes) e que no fundo ele era o
problema (e ainda se virou para a psicóloga e perguntou se ela estava anotando
tudo direitinho, afe!). Naquele instante eu me senti reduzida ao tamanho de um
verme. O que havíamos feito para que ele se sentisse como sendo um problema?!
Rótulos, estas
malditas frases que falamos sem pensar para descrever (e reduzir) uma pessoa a
um significado momentâneo e que a marca/estigmatiza para o resto da vida. Rótulos! Ainda me
lembro que minha tia e minha avó costumavam me chamar de monstro porque eu
tinha/tenho um temperamento explosivo sempre imprevisível de quando poderia ter
um rompante de energia e emoções.
Então o rótulo
do meu filho era esse, levado, bagunceiro, desobediente aquele que sempre ia
para o “cantinho do pensamento”, e isso o levou a se auto-proclamar “um
problema”. Nossa obrigação é desconstruir esta ideia antes que fique
internalizada demais para que de fato se torne um problema. De posse desta
valiosa informação pude começar a mudar a forma como estava lidando com ele,
para de fato ajudá-lo a passar por isso.
Conversamos
outros assuntos na reunião da escola sobre como fazê-lo se interessar mais pela
turma e afeta-lo, envolvê-lo. Saímos munidos de confiança e esperança de que
podemos, com passos pequenos e ações delicadas ajudar o nosso amor. Agora é
seguir em frente com uma nova tática e forma de nos relacionarmos com nosso
Miguel.
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