Como tudo começou?

Enquanto revia vídeos e fotografias do meu pequeno de 4 anos (hoje com 7), que teima em crescer mais rápido do que eu consigo acompanhar, aproveitei para reler os diários que fiz desde a gravidez aos dias de hoje sobre cada momento (que julguei importante, essa ideia eu tive com a minha sogra que até hoje guarda escritos sobre fofurices do meu marido quando criança) registrado para que as trapaças da memória não as apagassem.


Foi neste caminho de reviver o passado que me descobri saudosa e percebi que precisava compartilhar as lembranças antes que esmaecessem sob a luz do dia a dia. Então, resolvi que postaria para amigos, familiares e outros curiosos do mundo pedaços desta minha vida, e ainda de lambuja deixar para o meu pimpolho histórias sobre ele mesmo para que um dia leia e sinta como foi esta jornada de chegar ao mundo e traçar seus próprios caminhos.


Espero que gostem e se emocionem um pouco, assim como eu ao revisitar minha história, e se entusiasmem para fazer uma visita à história de vocês.
Sejam bem vindos às "histórias sobre meu filho".

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Identidades invisíveis

Miguel voltou das férias no final de semana, muito feliz em reencontrar os pais. Tocou a campainha da porta com um sorriso nos lábios. Do outro lado, o pai, ansioso por um abraço, abriu com a mesma alegria. Eis a surpresa quando Miguel percebeu que seu pai estava careca. Ele deu meia volta e saiu pelo corredor, quando o alcancei ele iniciou um choro sentido.

Não, o pai não estava careca porque qualquer motivo de saúde, era apenas um novo estilo que estava experimentando. E que na verdade achei muito charmoso...

Lembrei-me de uma vez quando pequena e meus pais ainda eram casados, um dia voltando da escola cheguei em casa e não reconheci meu pai. Ele sempre usava uma barba densa e cheia, pra mim era sua marca registrada, e de repente ele estava careca de barba, cara limpa! Eu chorei. Não o reconheci, não identifiquei meu pai naquele homem a minha frente.

Foi o que aconteceu com o Miguel.

Os pelos corporais e faciais se tornaram identidade de quem somos, nos conferem um rosto e geram no outro expectativas diversas sobre quem é como somos. As tatuagens fazem o mesmo efeito, assim como brincos, piercings, etc. Marcas de identidade.

De repente o pai não é mais o pai, mas um outro ser estranho, diverso, único. A pergunta feita pelo meu filho foi se o cabelo iria crescer, seguida da promessa de que nunca mais o país fizesse "aquilo".

Mas na verdade "aquilo" não faz dele menos pai, marido ou filho.  Não nos diz respeito as escolhas individuais. Por que então elas nos incomodam tanto? Ok é fácil entender a reação das crianças mas é os demais, os adultos?

Nossas identidades estão mais fluídas e menos enrijecidas. E isso assusta, não poder mais nomear e classificar as pessoas pelo que são ou deixam de ser traz um desconforto. É necessário categorizar e enquadrar numa escala qualquer de valores para que possamos compreender o outro. Foi assim que nos ensinaram na escola.

Mas o mundo da voltas e as percepções mudam. Hoje somos quem queremos ser, "somos quem podemos ser", e as possibilidades de ser são ilimitadas e infinitas. As identidades são invisíveis a olho nu.

A lição nesta história é o respeito à individualidade, o amor acima da expectativa. E esta é uma lição de vivemos todos os dias.