Como tudo começou?

Enquanto revia vídeos e fotografias do meu pequeno de 4 anos (hoje com 7), que teima em crescer mais rápido do que eu consigo acompanhar, aproveitei para reler os diários que fiz desde a gravidez aos dias de hoje sobre cada momento (que julguei importante, essa ideia eu tive com a minha sogra que até hoje guarda escritos sobre fofurices do meu marido quando criança) registrado para que as trapaças da memória não as apagassem.


Foi neste caminho de reviver o passado que me descobri saudosa e percebi que precisava compartilhar as lembranças antes que esmaecessem sob a luz do dia a dia. Então, resolvi que postaria para amigos, familiares e outros curiosos do mundo pedaços desta minha vida, e ainda de lambuja deixar para o meu pimpolho histórias sobre ele mesmo para que um dia leia e sinta como foi esta jornada de chegar ao mundo e traçar seus próprios caminhos.


Espero que gostem e se emocionem um pouco, assim como eu ao revisitar minha história, e se entusiasmem para fazer uma visita à história de vocês.
Sejam bem vindos às "histórias sobre meu filho".

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Todas de barriguinha de fora

- Elas pareciam adolescentes, estavam todas com a barriga de fora - ele comentou sem parar para me encarar ou qualquer coisa. O tom de seu comentário era de crítica, e foi quando perguntei.


Dia de carnaval na escola.

Apesar do Miguel não curtir samba, ele bem topa uma bagunça e se fantasiar.

Lá foi ele com sua fantasia de Finn*. No final do dia chega em casa comentando que achou muito estranho as meninas da sala dele no carnaval.

??????


- Elas não podem ir de barriga de fora? - ao mesmo imaginava fantasias de baiana, odalisca e havaiana que tradicionalmente fazem o estilo "barriguinha de fora".

- Não, porque elas não são adolescentes.

Miguel rotulou e taxou o lugar apropriado para determinada vestimenta, e porque não comportamentos? Nesta nova escola se depara com atitudes que antes lhe pareciam distantes. Há que compreender mas não se corromper.

* Finn é personagem do desenho animado Hora da Aventura - http://www.imdb.com/title/tt1305826/

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Uma nova paixão?

No último final de semana enquanto eu estava fora trabalhando em um evento, pai e filho foram convidados para almoçar na casa de uns amigos. Lugar ideal para uma tarde de domingo, todos curtem comer e beber bem, havia área de lazer para as crianças e nossos filhos poderiam socializar de um lado, enquanto os pais bebericavam de outro.

Neste cenário aprazível de uma tarde de verão, começou um tititi entre as crianças. Eu não estava presente então estou recontando em terceira mão o ocorrido.

Num dado momento da brincadeira vem à tona, talvez precocemente, a conversa de quem acha quem bonito. É engraçado porque me lembro de nesta idade começar a ter algum interesse pelos meninos mas ainda de forma bastante ingênua. Beijos (numa rodinha de verdade ou consequência) e  insinuações surgiram por volta dos 10 anos.Resultado de imagem para meninos e meninas brincando 8 anosMiguel revela ao grupo de amigos, composto por três meninas e um menino (fora ele) que achava uma das meninas da roda bonita. A irmã dela o puxa pelo braço e leva para outra área e, à distância, o pai testemunha um ir e vir frenético entre a patota. É o frenesi da descoberta, da identificação com o grupo e da diferenciação entre meninos e meninas.

O que rolou não sabemos ao certo. A pergunta feita foi sobre sua eleita de até então, teria sido esquecida? Substituída? Uma nova paixão? Mas ele desconversou, entre risinhos tímidos e envergonhados. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa...

Será que houve alguma troca de afeição? Espero que não, que eles se permitam viver a ingenuidade da infância de forma plena, porque uma vez maculados não há volta, o véu do mundo se abre e o caminho de volta é lacrado, é daí pra frente. 

É uma delícia vê-los experimentando a vida. Para nós pais, espectadores, só nos resta apoiar e orientar, e aceitar que aquele bebezinho está, há muito, caminhando com as próprias pernas.

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Rotulando o outro

Na escola uma das atividades é descrever as características de outras pessoas. O tão conhecido nós X o outro.
Miguel recebeu um desenho com duas crianças  e descreveu com seu olhar a cena que se passava - são amigos! A professora, incutida de suas intenções se porque não de seus preconceitos, o "corrigiu".  Um era alto e outro baixo, um era magro e o outro "gordinho".
Esta doeu no meu útero.
Primeiro porque ele viu algo além de descrições estereotipadas.
Segundo porque não há problema ser gordo ou magro, mas é necessário definir o parâmetro de comparação. Estas qualidades não existem intrinsecamente no ser humano, mas são adotados pelos outros (aqueles que não o sujeito de quem falamos) em relação a um ponto qualquer inicial que servirá de base de avaliação.
Eu por exemplo com 57kg sou GORDA em relação a Gisele Bunchen, e sou MAGRA em relação à Preta Gil. Mas isso não diz nada sobre mim, só serve para me identificar em meio a uma multidão de estereótipos.
Então continuamos a conversa...
Não existe feio ou bonito, na verdade escolhemos o que nos parece belo ou não. E Miguel completa:
- Ah, como no Modern Familý* quando a Alex diz que a arte é bela para uns e feia para outros.
- Isso aí, meu filho. - comenta o pai orgulhoso.
Mas será que ele entendeu?
 - Agora finge que não lembro do Cameron ( personagem da mesma serie) e descreve ele. - pede o pai cheio de intenções, uma vez que a personagem é GAY, HISTÉRICO e GORDO(sim usei vários estereótipos, mas a ideia é essa).
Resultado de imagem para modern family cameron mitchell - Ah não sei... - diz o Miguel já tentando imaginar a pegadinha por de trás do pedido.
 - OK, então me diz como eu sei quem e o Cameron e quem é o Mitchel?
 - Ah... o Mitchel é o de BARBA. - show, eu jamais o descreveria assim, pra mim ele é o RUIVO.
- E o Cameron?
Ele tentou não responder esta pergunta e saindo pela tangente disse:
 - O da cara ENGRAÇADA.
Sim o cara é gordo em relação aos demais do elenco, inclusive a questão do peso surge em diversos episódios, não há nada de errado nisso. 
A conversa continuou no ar, e também a nossa dificuldade em mostrar a diferença entre utilizar características de uma pessoa como ofensa ou como simples descrição. Num mundo onde o politicamente correto toma conta de tudo que pensamos, falar muitas vezes a verdade dos fatos, se torna um exercício escorregadio de fugir do abraço de uma Anaconda, você até se esquiva mas acaba sendo pego.
Meu filho, o que importa é que não há nada errado em ser gordo, feio, magro, baixo, alto, bonito, gay ou hétero desde que qualquer destas características não sejam utilizadas em tom depreciativo. 
O mais importante, e isso o Miguel sabia no início do exercício, é que eles eram amigos.

 

* Modern Family - seriado de TV americano que aponta uma nova configuração familiar onde há divórcios, casamento homossexual, casamento tradicional, casais com diferença de idades, estrangeiros, adoção de crianças, etc.

Evolução tecnológica ou doce de criança?

Vendo um filme policial em família, em determinada cena uma das personagens diz que não ainda não viu o disquete e não pode prender o bandido. Aí começa a conversa paralela:
Nenhum texto alternativo automático disponível.
- KKKK disquete, diz Marcelo.
- Miguel, você sabe o que é disquete? - pergunto eu com segundas intenções.
- Claro, né? Uma balinha.
- Uahahahahah - rimos em coro, e nem explicamos mais nada pra ele.
- Isso merece um post - Marcelo completa ainda com o riso no fundo da garganta.
 

E Miguel sem entender continua a ver o filme...
 

Nenhum texto alternativo automático disponível.É assim que percebemos que estamos ficando velhos, quando o auge da tecnologia da nossa infância é o nome de uma bala na infância do nosso filho.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Sem reservas

Sentados vendo um filme romântico na TV Miguel sempre se acanha hora dos beijos. Claro que aproveitamos para emitir o tradicional "awwww" nestas cenas deixando-o ainda mais envergonhado.

Ele estava deitado em meu colo enquanto aquela história boba se desenrolava, até que o mocinho (ou ainda se fala galã?) beija a mocinha (ou seria heroína?). 

Então eu olho para ele e sem pestanejar digo: 

- AWWWWWW!

- Ah, para mamãe.  

- Ora, por que? Eu adoro beijar. 

- Por que?

- É o jeito que a gente de dizer que gosta de alguém, é gostoso. - Enquanto eu falava percebi sua movimentação, uma certa inquietude na pélvis. - O que está acontecendo aí, meu filho?

Ele começa a rir sem , e sem reservas me dá uma resposta.

- Ah eu sei lá. Às vezes quando eu vejo beijo assim meu pinto fica duro, acontece alguma coisa.

A mãe ri e fica com cara de tacho, ainda ponderando se teria sido o beijo ou a Catherine Zeta-Jones?

Seja lá o que for, meu filho está crescendo, literalmente!



segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

O Coração de Botafoguense


Miguel: - Papai, eu achava que o coração parava de bater quando a gente deitava pra dormir, e voltava a bater quando a gente acordava no dia seguinte. 

Pai:  - Faz todo o sentido, meu filho. Afinal, nosso coração também precisa de descanso, sobretudo os que sofrem de amor não correspondido e maltratados pelo time do coração (que o digam os botafoguenses após o jogo de ontem, né?).

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Percepções da nova escola


Miguel dá depoimento sobre a nova escola e suas impressões iniciais.



O primeiro dia de novo

Primeiro dia numa escola nova. 


Depois de receber a notícias da mudança com lágrimas nos olhos (ele está aprendendo a lidar com mudanças, esta é a lição que ele tem nesta vida), Miguel se resignou e aceitou os prós e contras da decisão. 

Ouviu alguns amigos, conhecidos e familiares que também frequentaram escola pública. Pesou os benefícios que teria, entre eles, atividades extras que combinamos que ele poderia fazer.

Acordou cedo - como se não bastasse a troca de escola, o horário também é novidade -, se aprontou rapidamente e bem disposto, me atrevo dizer que ele estava animado. 

Seguimos no caminho, mas não sem antes registrar o momento com descontração. Foto na posição do Bolt, e vamos em frente. 

Chegou ao prédio subindo as escadas aos saltos. Seria entusiamo? Seria medo? Seja lá o que foi, ele encarou de frente, cabeça erguida e ombros para trás.

No portão nos informaram que a professora dele está em capacitação (isso é bom, né?) e a turma iniciaria apenas na segunda. 

Puxa, rolou uma certa decepção. 

Mas o Diretor (ah, sim, o próprio Diretor da escola dava boas vindas aos alunos, enquanto o Inspetor organizava a entrada) propôs àqueles que quisessem ficar, providenciar atividades junto a outra turma. Detalhe uma turma mais velha que a dele. Teria sido isso um sinal? 

Perguntamos ao Miguel o que gostaria de fazer, ficar e se enturmar ou retornar somente na segunda. Ele quis ficar! Meus olhos encheram-se pela decisão, pela escolha que ele fez, sem pressão, com amor.

São estes momentos que importam.