Não, o pai não estava careca porque qualquer motivo de saúde, era apenas um novo estilo que estava experimentando. E que na verdade achei muito charmoso...
Lembrei-me de uma vez quando pequena e meus pais ainda eram casados, um dia voltando da escola cheguei em casa e não reconheci meu pai. Ele sempre usava uma barba densa e cheia, pra mim era sua marca registrada, e de repente ele estava careca de barba, cara limpa! Eu chorei. Não o reconheci, não identifiquei meu pai naquele homem a minha frente.
Foi o que aconteceu com o Miguel.
Os pelos corporais e faciais se tornaram identidade de quem somos, nos conferem um rosto e geram no outro expectativas diversas sobre quem é como somos. As tatuagens fazem o mesmo efeito, assim como brincos, piercings, etc. Marcas de identidade.
De repente o pai não é mais o pai, mas um outro ser estranho, diverso, único. A pergunta feita pelo meu filho foi se o cabelo iria crescer, seguida da promessa de que nunca mais o país fizesse "aquilo".
Mas na verdade "aquilo" não faz dele menos pai, marido ou filho. Não nos diz respeito as escolhas individuais. Por que então elas nos incomodam tanto? Ok é fácil entender a reação das crianças mas é os demais, os adultos?
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Mas o mundo da voltas e as percepções mudam. Hoje somos quem queremos ser, "somos quem podemos ser", e as possibilidades de ser são ilimitadas e infinitas. As identidades são invisíveis a olho nu.
A lição nesta história é o respeito à individualidade, o amor acima da expectativa. E esta é uma lição de vivemos todos os dias.