Desde que eu meu lembro, eu sempre quis ser mãe. Toda aquela ideia linda de ter um bebe nos braços, cuidar e nutrir um, sempre me fez sorrir. Então eu tive um bebe, e de repente como no Tropa de Elite alguém gritou para mim “a casa caiu”!
Cadê os bebes de bochechas rosadas dos comerciais de fraldas, correndo e sorrindo com seus bumbuns gigantes e pezinhos miúdos? Eu vou te contar. Eles não existem!!!
O que vendem por aí são comerciais, ideias românticas e idílicas para te convencer a procriar, porque a parte do sexo é boa. Mas quando eles nascem, acabou. É como uma nuvem sobre a casa da Família Adams.
Eu passei uma gestação incrível, levava meu bebe para cima e para baixo (pode parecer obvio, mas conheci gravidas que saiam de casa e pareciam deixar a barriga lá). Aos 7 meses eu subi numa árvore para tirar umas fotos de recordação. Queria que meu filho me achasse maneira. Uma semana antes do meu filho nascer eu ainda fazia pilates e ia ao trabalho (para trabalhar e não bater papo). Meu pequeno nasceu com quase 41 semanas e de cesariana, apesar de todos os exercício naturebas que fiz para fazê-lo encaixar na minha pélvis e sair por onde entrou.
Não senti aquela emoção, aquele clique quando o vi pela primeira vez, acho que era feito da anestesia, eu estava abobalhada, e pensei logo que alguém havia se confundido que ele era feio demais para ser meu (brincadeirinha, mas ele era melequento).
Depois fomos para casa e aí caiu a ficha. Meu Deus, o que eu fiz com a minha vida! Eu não me pertencia mais, eu estava me doando para um completo estranho! Estranho sim, não era porque havia vivido dentro do meu corpo que já fazia de nós grandes conhecidos. Eu tinha roupas no meu armário com as quais eu tinha um relacionamento muito maior.
Quem era aquela pessoa parada na minha frente, que chorava e me olhava? O que ela queria de mim? O que eu tinha feito? Não havia como ou para quem devolver.
Neste momento de total terror e pânico, automaticamente, entrou em cena o que eu chamo de instinto de sobrevivência, aquele calor que nos tira da inercia e nos move para frente e para o lado nos impedindo de morrer.
Foi este instinto que me permitiu seguir adiante na minha escolha, e pegar meu pequeno rebento nos braços e dar-lhe meu peito. Foi este mesmo instinto que fez com que ele segurasse meus dedos enquanto mamava e tombasse sua cabeça em meus ombros me pedindo aconchego.
Passados alguns meses, começou a desabrochar em nossos corações um sentimento diferente e ainda mais quente, vulgarmente chamado de amor. Chamo de vulgar porque é pouco para caber em mim e revelar tudo que se transformou em nós dois.
Lembra que eu disse que havia entregue minha liberdade pra outro alguém, eu tinha entendido essa parte errado.
Eu conquistei o mundo pelas mãos deste alguém desconhecido!
De uma hora para outra, não importava mais sobreviver, aquilo não era vida eu precisava de mais, e ele também. Foi algum momento que passou despercebido por nós e quando me dei conta fazíamos parte um do outro, íamos ao cinema juntos, brincávamos juntos, líamos livros no escuro e fazíamos cabaninha e brincadeiras pique-esconde entre as cadeiras, andávamos de mãos dadas na rua e contávamos segredos ao pé do ouvido um do outro...
Eu voltei a ser criança e lembrei da minha própria infância através dos olhos de arco-íris e da risada careca do meu filho. Me vi através de sua alma, enquanto guardava o último biscoito para dar a sua avó. E me encantei, olhando entre as frestas da porta, enquanto o espiava dar um beijo escondido na foto da amiguinha da escola.
Ganhei um amigo que acaricia meu rosto e me canta musicas sempre que me sinto indisposta e me pergunta como foi meu dia, enquanto pelo outro lado do abraço furta balas da minha bolsa.
Aprendi a me desfrutar com minha própria companhia, a correr atrás de bolhas de sabão e sorrir quando elas demoram a estourar. Porque a vida é assim, cheia de bolhas de sabão e é mais feliz quem aprende a orquestra-las para vê-las no ar por mais tempo e também aqueles que sabem apreciar as marcas que deixam depois que estouram no ar.
Eu sempre quis ser mãe, desde que era pequenininha. Eu só não sabia naquele tempo que eu queria ser a mãe do meu filho, porque só ele iria me fazer uma mãe de verdade.
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