Como tudo começou?

Enquanto revia vídeos e fotografias do meu pequeno de 4 anos (hoje com 7), que teima em crescer mais rápido do que eu consigo acompanhar, aproveitei para reler os diários que fiz desde a gravidez aos dias de hoje sobre cada momento (que julguei importante, essa ideia eu tive com a minha sogra que até hoje guarda escritos sobre fofurices do meu marido quando criança) registrado para que as trapaças da memória não as apagassem.


Foi neste caminho de reviver o passado que me descobri saudosa e percebi que precisava compartilhar as lembranças antes que esmaecessem sob a luz do dia a dia. Então, resolvi que postaria para amigos, familiares e outros curiosos do mundo pedaços desta minha vida, e ainda de lambuja deixar para o meu pimpolho histórias sobre ele mesmo para que um dia leia e sinta como foi esta jornada de chegar ao mundo e traçar seus próprios caminhos.


Espero que gostem e se emocionem um pouco, assim como eu ao revisitar minha história, e se entusiasmem para fazer uma visita à história de vocês.
Sejam bem vindos às "histórias sobre meu filho".

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Bebe Johnson

Um dia quando eu ainda era muito pequena e brincava, eu queria ser mãe.
Um dia quando eu estava na escola fazendo teatrinho e usava um vestido cor de uva, eu queria ser mãe.
Um dia quando eu trocava fraldas de filhos de amigos da minha mãe, eu queira ser mãe.
Um dia quando segurava os filhos dos meus primos no colo, eu queria ser mãe.
Um dia quando levava minha prima a uma feira de filhotes, eu queria ser mãe. 
Um dia quando acompanhei uma amiga à maternidade, eu queria ser mãe.
Um dia quando eu encontrei o amor e me apaixonei, eu queria ser mãe.

E então chegou o meu dia de ser mãe. 

Eu planejei cada detalhe, escolhi um nome caso fosse menina, e outro caso fosse menino. 

Pensei em com quais pessoas gostaria de compartilhar o momento e mandava atualizações da minha gravidez, semana a semana para um monte de amigos queridos. Escolhi madrinha e padrinho entre aqueles que poderiam nos representar melhor, em termos de gostos e crenças.

Lavei cada peça de roupa, escolhi detalhes do quarto, e andava com aquela pança empinada cheia de orgulho.

E ele veio, cabeludo, narigudo, pezudo. Resmungão, meio velhinho para aquele corpo tão pequeno. Com olhos abertos, atentos a tudo, sem querer perder mais nenhum segundo do mundo novo que agora conhecia, redescobria.

Mas o amor não veio como eu tinha sonhado. Tinha alguma coisa errada. Ele não tinha nenhuma daquelas características dos livros. Era cabeludo, e tinha cara de homem e não de bebe. Ficava acordado quase 10 horas seguidas, e quando se arriscava a dormir, acordava a cada três horas. Chupeta pra quê se tem o peitinho da mamãe? E olha que eu tentei.

Fiquei triste, culpada, não era este o meu sonho? Então por que não estava feliz? Eu queria dormir, tomar banho, ficar sozinha durante 1 hora. Eu queria um Bebe Johnson, igual aos dos livros, que ficava quietinho, dormia e mamava a cada X horas, que não chora, e é rechonchudo.

Na verdade não era nada disso, a gente só não se conhecia muito bem. Ele tinha lá as vontades dele, e eu tinha as minhas. O plano agora era conciliar estes desejos ou sair correndo de pijama pelas escadas do prédio (e olha que coisa eu fiz isso). Achei melhor chegar ao entendimento com ele.

Então fui arrebatada por um sorriso careca e olhos de arco-íris. Pequenas mãos que buscavam consolo em meus braços sempre que desagradado. 

Ora, menino mimado!  Menino do coração dourado, de ouro!

E o sol nasceu e se pôs tantas vezes que nem sei já. E veio frio, chuva, e de repente, tal como a brisa da primavera, um calor úmido inundou meu peito e eu me descobri apaixonada. 

Hoje quando acordo de manhã passo eu seu quarto para ver se ainda dorme anjo, eu sou sua mãe.
Hoje quando dou um esbregue e grito, eu sou sua mãe.
Hoje quando sento a seu lado para acompanhar na lição, eu sou sua mãe.
Hoje quando choramos juntos vendo filmes natalinos, eu sou sua mães.
Hoje quando estou triste e suas mãos secam minhas lágrimas, eu sou sua mãe.
Hoje quando danço na sala na frente da TV e sou acompanhada de sues passos gingados, eu sou sua mãe.
Hoje quando apago a luz de seu quarto e aponto as estrelas fluorescentes coladas no teto, eu sou sua mãe. 
Hoje quando estou ocupada e sorrateiramente sinto braços me envolvendo num gesto puro de carinho, eu sou sua mãe.
Hoje quando o escuto revelar as aflições (precoces) de seu coração, eu sou sua mãe.

E quando penso em voltar no tempo, me pergunto o que faria diferente? E eu mesmo respondo: Nada! Foi aquela jornada que traçamos juntos que fez de nós quem somos hoje. 


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