A maternidade é uma associação secreta que
somente aquelas que têm filhos fazem parte e conhecem seus códigos, e as não-mães
mesmo achando que sabem do que elas falam, não fazem a menor ideia. Vou
explicar.
Somente quem é mãe/pai, tem um filho e vive a
experiência da maternidade compreendem as alegrias e angústias de cuidar de uma
criança sua. Antes de ter meu filho eu adorava crianças, especialmente bebes. E
tomava conta de filhos de amigas da minha mãe sempre que tinha oportunidade.
Mas foi quando minha prima, filha da irmã da
minha, nasceu que eu curti mesmo. Acompanhei a gestação e nascimento, e depois
cuidava dela ao ponto de em algumas situações acharem que eu era a mãe (sou
quase 20 anos mais velha que ela). Em diversos momentos eu achava que alguns cuidados
de minha tia eram excessivos e que outros eram meio desleixados. Lembro-me de
certa vez que passei quase duas horas com a pequena nos braços dormindo quase
na mesma posição porque estava com o nariz entupido e quando minha tia chegou a
devolvi com alívio e a cabeça repleta de crítica do tipo “porque não coloca remédio?”,
como eu ia saber que não se coloca remédio em criança tão pequena? Eu só queria
era dar o fora dali, meu braço doíam abeca, nem pensei no que deixava para trás.
Então os anos passaram e chegou a minha vez. Quando
engravidei havia uma grande oferta de cursos de gestantes, para ensinar a mamãe
de 1ª viagem a cuidar do rebento (não sei se isso era tão comum antes). Mas
tinha de tudo um pouco: Fadynha, Bebe Stephanie, Maternidade Perinatal, Casa de
Saúde São José, Bella Gestante, SOS Mamãe & Cia, etc.
Eu tinha certeza que já sabia tudo que era
necessário, mas como meu marido nunca tinha tido contato com crianças achei que
destes cursos seria legal, escolhi o da própria maternidade, por praticidade. Algumas
dicas eram interessantes e de um modo geral não tinha nada que eu já não soubesse,
mesmo nunca tendo sido mãe. Fiquei chocada com alguns comentários das gestantes
durante o curso, bastante tapadas, eram capazes de afogar a criança na banheira,
mas isso não era problema meu.
Depois que meu filho nasceu aquelas dicas do curso
não me serviram pra nada, tudo que eu sabia se apagou da minha mente, eu não
sabia nem meu nome, minha inteligente foi drenada junto com o líquido amniótico.
O que me serviram foram os telefonemas de minha mãe, minha avó paterna e minhas
tias, cada uma delas de época pré cursinho, todas pertencentes da associação secreta
das mães, conhecedoras do segredo,
aquilo que somente quem é mãe sabe. Não há médico, curso que possa nos
ensinar.O que é? Ouvir seu filho. Mas como ouvir um bebe que não fala e só
chora? Esse é o segredo.
Somente quem é mãe sabe como isolar o chorar,
os sons, o barulho e sentir. O resto é técnica disso e daquilo, e o que é melhor
para um par mãe-bebe, pode não ser para outro. Vende-se livros e cursos às
custas da inexperiência (e quiçá da culpa), mas esquecem de nos dizer que por trás
de um bebe de fraldas já há um indivíduo, com vontades, com desejos. Não há
regra porque um bebe dorme de dia e outro de noite, um pega peito e outro
prefere mamadeira, um chupa dedo, e o outro é bebe by the book: segue todas as
regras mama de 2h em 2h, dorme e não chora.
Hoje me sento à mesa da associação secreta das
mães e me rio e angustio ao ver amigas mães de 1ª viagem enlouquecendo com as
regras que seus pimpolhos não seguem, esquecendo-se de usar o bom senso, se
vendendo para a culpa e deixando de viver a grande aventura que só está começando.
Mas no final do primeiro ano encontramos o equilíbrio e de uma forma ou de
outra, todas descobrimos o segredo.
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