Como tudo começou?

Enquanto revia vídeos e fotografias do meu pequeno de 4 anos (hoje com 7), que teima em crescer mais rápido do que eu consigo acompanhar, aproveitei para reler os diários que fiz desde a gravidez aos dias de hoje sobre cada momento (que julguei importante, essa ideia eu tive com a minha sogra que até hoje guarda escritos sobre fofurices do meu marido quando criança) registrado para que as trapaças da memória não as apagassem.


Foi neste caminho de reviver o passado que me descobri saudosa e percebi que precisava compartilhar as lembranças antes que esmaecessem sob a luz do dia a dia. Então, resolvi que postaria para amigos, familiares e outros curiosos do mundo pedaços desta minha vida, e ainda de lambuja deixar para o meu pimpolho histórias sobre ele mesmo para que um dia leia e sinta como foi esta jornada de chegar ao mundo e traçar seus próprios caminhos.


Espero que gostem e se emocionem um pouco, assim como eu ao revisitar minha história, e se entusiasmem para fazer uma visita à história de vocês.
Sejam bem vindos às "histórias sobre meu filho".

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Descoberta de Páscoa

Semana de páscoa sempre foi m período que me trouxe muito incomodo. Quando eu era criança, insistiam comigo para comer peixe na sexta-feira, mesmo eu não gostando (hoje eu gosto) e não permitiam que se tivesse outras comidas em casa. Lembro-me que somente quando minha irmã, que tinha sérios problemas para se alimentar (só comia arroz), começou a comer a lasanha, é que este prato foi permitido para ela, mas eu ainda tinha que comer as batatas e legumes do bacalhau.

Aquela cerimônia forçada, descasada de uma tradição que fosse coerente, (sim, porque também não éramos religiosos o suficiente para guardar a tradição da sexta santa de forma lógica, era mais uma desculpa para comer bacalhau) sempre me desgostou.  E quando chegava no domingo só piorava.

Por incrível que pareça, eu nunca fui fã de chocolate, até hoje me lembro daqueles horríveis guarda-chuvinhas de chocolates com gosto de gordura hidrogenada que ganhávamos de vez em quando, tinham um retro gosto que ficava preso nos lábios e fundo da garganta e nunca mais ia embora. Eca! 

Acho que era por isso que não gostava de chocolates naquela época a oferta era mais limitada. A cara de decepção das pessoas quando me presenteavam era o reflexo da minha própria, e aquilo era constrangedor. Imagino o sacrifico que minha tia fazia para comprar ovos para os quatro filhos e todos os sobrinhos e eu lá com aquela cara aborrecida.

Depois de um tempo criei um jeito para fugir dos ovos, passei a só comer chocolate branco, e não havia ovos de chocolate branco. Contentava-me com uma barrinha de galak, ou uma balinha, mas ainda assim aqueles que me presenteavam pareciam sempre tão frustrados quanto eu mesma.

Nunca entendi esta necessidade de nos forçar a comer aquilo de que não gostamos, e como disse antes, na minha família nunca houve uma forte tradição religiosa, na medida em que pude escolher minhas próprias crenças, esta foi uma que abandonei de vez.

Mas os anos passaram e minha inner child virou mãe. Descobri outras formas de passar as festas santas, através dos olhos do meu filho, através da inocência da criança, através da magia.

Enquanto fazia os últimos acertos ligando do meu celular para o coelho da páscoa (é isso mesmo, eu tenho ligação direta para o coelhinho, pelo menos na imaginação do Miguel), convenci meu pequeno de que ganhar ovos não era tão bom quanto uma cesta de guloseimas, afinal renderia muito mais. Na verdade os ovos estão caríssimos e tenho certeza de que ele vai ganhar outras coisas de tias e avós.

Na sexta santa entramos numa loja cheia de ovos de chocolate, apenas para cortar caminho até a entrada que fica na outra rua, e fomos abordados por um menino negro e pobre, que nos pedia para pagar um chocolate. A fila estava imensa e iríamos ficar pelo menos 1h na loja, e tínhamos um pouco de pressa, mas aquilo acabou comigo. Minha criança interior veio à tona com toda sua tristeza em relação a este feriado. Na saída da loja havia mais crianças esperando que alguém lhes comprasse chocolates. Eu comecei a chorar, primeiro porque não poderia comprar para todas (nem mesmo tinha dinheiro comigo), segundo porque era injusto que tanta propaganda fizesse com que as diferenças entre os que podem ter acesso e os que não podem ficasse tão evidenciadas. Era apenas chocolate, algo que para mim é tão cotidiano e que para aquelas crianças era um luxo.

Miguel não entendeu porque eu chorava e comecei a explicar que o menino era pobre e a mãe (se é que ele tinha) não tinha dinheiro para comprar chocolate para ele, e que eu não poderia comprara naquela hora. E que ele deveria sempre pensar nas coisas que ele tem, e entender quando eu disser não por algum motivo, etc.

Foi aí, neste momento, que meu filho, após um segundo de silêncio, me perguntou:

- Mamãe, você queria ser mãe daquele menino?

Eu hesitei porque não sabia o que responder, e então resolvi dentro de mim. – Talvez, por quê?

- Você podia levar ele para casa, e ser mãe de nós dois.


O que ele estava pensando? O que ele entendeu disso que havia acontecido? Será que ele pensou que eu sendo mãe do menino resolveria a tristeza, ou a minha? Eu não sei, somente posso conjecturar, mas que foi minimamente inusitado, foi.

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