Temos que ter uma grande dose de paciência para
não punirmos os pequenos por aquilo que eles ainda não têm capacidade de
compreensão, simplesmente porque é mais fácil para gente.
A sensação que tenho é de que o limite entre o
entendimento e sensibilidade deles e sua capacidade de nos manipular é uma
tênue linha pontilhada capaz de se esvair e tornar meu dia completamente
desgastado e cansativo. Da mesma forma que a fase de adaptação é um período
emocionalmente estressante para os pequenos, é um tempo de muita irritação para
os pais. Tudo o que queremos é que as crianças se adaptem à nova rotina e nos
deixem seguir adiante.
Há pouco mais de um ano passei por um processo
de adaptação semelhante porque mudei de emprego, em parte eu queria, em parte
fui forçada, mas o que importa é que me vi diante da situação de ter que
construir novas relações a partir do nada. Ninguém me disse que minha mãe ou um
antigo colega do ex-trabalho deveria participar da adaptação comigo durante
alguns dias, até que eu me sentisse familiarizada. Ninguém no meu local novo
trabalho se preocupou em me fazer enturmada me chamando para um almoço ou café,
muito pelo contrário, tive o azar de ingressar numa empresa cujo ambiente é
extremamente hostil com os novos.
Espera-se que um adulto saiba lidar com esse
tipo de situação com a mesma facilidade com que se troca de roupa. Mas a
verdade é que o ser humano é avesso às mudanças. Por mais adaptáveis que
sejamos sempre iremos preferir mais do mesmo (salvo algumas exceções).
Voltando à adaptação do Miguel à nova escola,
todo o ambiente escolar foi preparado para a chegada dos novos alunos,
independente da idade, mesmo que nas primeiras semanas a turma tivesse que dar
uma pausa na programação. O cuidado com o coração e mente destes pequenos, o
carinho com o qual foram recebidos, tudo isso só me leva a crer que estamos
moldando adultos mais bem preparados para os desafios e “ambientes hostis” do
futuro, sim, porque a vida, o mundo, não é cabinha montada no centro do quarto,
e por mais que queiramos estar e sejamos presentes, não poderemos “dar colo”
para o resto de suas/nossas vidas.
Hoje o combinado foi que eu não entraria na
sala de aula, até agora tudo bem, estou aqui do lado de fora, contando o tempo
que não passa. Esperando que ele esqueça que tem mãe, pelo menos pelas próximas
4 horas. (Ele já veio conferir seu continuava aqui 4 vezes em meia hora, afe!
Até parece que nasceu colado comigo).
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