Outro dia Miguel
me ouviu comentar com outra mãe que eu sempre quis ter uma menina. Veio me
perguntar se eu não o queria. Tive que me desdobrar para explicar que não era
bem assim, que eu sempre o quis, mas quando estava grávida achava que teria uma
menina porque minha família só tinha mulheres, e eu achava que seria mais fácil.
Um dia ele vai
ler estas palavras e entender a verdade. Eu sempre o quis e o desejei, mas no
início eu queria uma menina, exatamente pelos motivos acima. Quando eu soube
que teria um menino eu chorei, de decepção nos primeiros 30 segundos, por que não
compraria vestidos floridos ou bolsinhas (pensamento bem fútil, eu queria
brincar de boneca) e de medo na meia hora seguinte (eu temia pela
responsabilidade de criar um menino que na minha imaginação sempre foi maior
que criar meninas, hoje acho que é igual).
De fato não
tenho personalidade para ser mãe de menina, as coisas acontecem como tem que
ser. E logo fui me adaptando à idéia de ser mãe de um menino e construindo
nossa relação edipiana desde o útero. Nunca tive paciência para conversar com a
barriga (quantas coisas nos impõem que nos afligem durante a gravidez e
maternidade, eu queria ser livre), mas subi em árvore com um barrigão de 7
meses porque queria que ele tivesse uma mãe maneira, mãe de menino. E imaginava
nós dois brincando de bola e andando de mãos dadas. Na verdade até hoje consigo
imaginar meu Miguel já grande e barbudo dançando comigo já bem mais velha,
sempre sonho em como ele será para sempre meu companheiro, meu príncipe, nunca
sonhei com um bebê.
Escrevi numas
das páginas do meu diário da gestação uma lista de qualidades e adjetivos que
desejava que a personalidade-alma que iria assumir meu filho pudesse ter, como
seu pudesse moldar não somente seu corpo físico que eu gerava em minha barriga,
mas seu ser psíquico também. Então se eu pudesse responder ao Miguel novamente,
eu sempre o desejei, mesmo ele não sendo o que eu achava que eu queria, porque
somente ele sendo o meu menino, ele poderia me complementar e me desafiar como
faz todos os dias.
Se eu tivesse
uma menina talvez essa brincadeira de ser mãe não estaria sendo tão louca e
maravilhosa como a que esta por estar ao lado do meu Miguel.
Ele pode até
pedir ao pai para colocá-lo na cama a noite para dormir ou uma “colher de chá”
para ir ao colo na rua, e eu posso até ser muito dura com ele às vezes (muitas
talvez), mas o que temos vem de longa data, de outras dimensões e de muitos
anos, e essa experiência nos pertence tal qual um segredo particular, podemos
até contar para vocês, mas só tem graça mesmo para nós dois.
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