Farpas
Neste calor
carioca de 40° com sensação térmica de 50° é impressionante como o verde da
grama rapidamente se transforma em marrom seco, amarelado. As folhinhas aguadas
se transformam em espetos duros, cortantes, farpas.
Nesta nova
paisagem que se instaurou no Rio de Janeiro, fomos encontrar nossos queridos
amigos no Aterro do Flamengo para uma manhã de brincadeiras, desenhos a giz no
asfalto escaldante e corridas de bicicletas.
Nunca vi que eu
me lembre uma criança de quatro ou cinco anos que conseguisse ficar calçada com
os pés suando, enquanto a brincadeira corria solta, por entre árvores e amigos.
Neste cenário pitoresco, uma, duas, três crianças conseguiram o feito de furar
seus pequeninos e delicados pezinhos com as farpas feitas de gramas secas.
Na mesma hora
consegui retirar duas farpinhas dos pés do Miguel. Ele paradinho, pernas
esticadas, aguardou o feito e pronto! Porém, quando chegamos em casa, um
pontinho preto, escondido sob a pele, disfarçado, era um restinho da farpa que
não tinha sido muito bem retirado.
Começou então a
operação “retirar farpa”. Tudo ia bem, puxa daqui, estica dali, não estava
sentido nada, apenas aquele insistente pontinho preto que teimava em se firmar na
planta do pé do meu filho. O problema começou quando, ao não conseguir o
incômodo intruso, o pai falou sobre uma ida ao hospital para remover a farpa.
Pronto. Começou o chorou até então inexistente. Miguel é super resistente a dor
e ferimentos mas se tem três coisas que o tornam uma maria-mole são: sangue no
machucado, injeções (anestesias, vacinas, etc.) e a possibilidade de ir ao
hospital. Essas coisas fazem do Super Miguel virar o Clark Kent sem poderes,
são a kriptonita do meu filho.
Daí em diante
ele chorava, babava, apertava a mão do pai, e dizia para meio a voz lacrimosa:
- Você tem que
conseguir.
- Mas está
doendo, meu filho? – eu perguntava.
- Sim, mas você
precisa conseguir, mamãe. – e apertava a mão do pai, ou mordia uma toalha. A
possibilidade de ir ao hospital era mais insuportável que o sofrimento diante
do qual estava diante.
Catuquei,
espremi, cortei, furei, e nada. Acho que era só uma sujeira no pé. Acabou que o
pé (e meu pequeno) ficou traumatizado. Mas o sorriso no rosto do Miguel quando
coloquei o Band-Aid das Tartarugas Ninjas era imenso, porque não importava o
latejar na sola do pé, o importante é que não tinha sangue, nem injeção, nem
hospital.
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